O filme com Mira Sorvino na Netflix vai tirar seu fôlego e fazer seu coração querer saltar pela garganta

O filme com Mira Sorvino na Netflix vai tirar seu fôlego e fazer seu coração querer saltar pela garganta

Antoine Fuqua tornou-se uma grife. Ao longo de um quarto de século, foi se tornando impossível pensar em histórias de ação e enfrentamento entre criminosos e a polícia; a bandidagem entre si; e os homens da lei bons e maus, sem que o nome de Fuqua desponte na lembrança como um dos profissionais da novíssima indústria cinematográfica que melhor aliam excelência técnica e domínio da linguagem, deixando inequívoco o recado que deseja transmitir. “Assassinos Substitutos” é outro de seus trabalhos em que imprime a marca registrada de esquivar-se do politicamente correto com sutil galhardia, opinar sobre o que lhe brota à cabeça e deixar que a encrenca chegue do jeito mais orgânico, às vezes de forma açodada e desproporcional.

Em sua estreia no comando de longas-metragens, já famoso pela carreira à frente de videoclipes — que não sofreu qualquer abalo com o sucesso na tela grande, e foi mesmo impulsionada pela boa repercussão no outro nicho —, o diretor faz a alegria de quem prefere tramas de andamento veloz, irrigadas a muito sangue e os lendários acertos de contas entre antagonistas e postulantes a mocinhos sujeitos a repensar a vida depois de um evento que de alguma forma os faz balançar.

O ineditismo é de fato o DNA de “Assassinos Substitutos”. Num movimento ousado, Fuqua escolhe para anti-herói de seu filme um ator de trajetória já consolidada em seu país de origem, mas desconhecido na América — e o resultado não poderia ser mais feliz. Celebridade na China e na Ásia há duas décadas, Chow Yun-Fat parece ter sido talhado para o papel de um justiceiro perigosamente incomodado com a missão de que o encarrega Terence Wei, o chefão do tráfico de Kenneth Tsang. John Lee, um imigrante chinês na América, é coagido a vingar a morte do filho de Wei, executado por Stan ‘Zeedo’ Zedkov, o policial vivido por Michael Rooker. Conforme já se imagina, a única lei a se aplicar num cenário feito esse é o princípio de Talião, e o velho exige que Lee mate o filho de Zeedo, um garoto de sete anos.

Elaborando o paradoxo de figuras monstruosas que sabem muito bem respeitar seu limite quando sentem-no como se o espírito lhes queimasse — argumento que cai como uma luva em contos desse jaez —, o matador se rebela e, por óbvio, sabe que sua ingratidão terá consequências. O diretor trabalha a primeira reviravolta de “Assassinos Substitutos” a partir da corrida contra o tempo do personagem central na tentativa de voltar a Xangai a fim de pôr a salvo a mãe e a irmã, contando com a ajuda de Meg Coburn, a perita em falsificações encarnada por Mira Sorvino, levemente temperada com os cacoetes de Linda Ash, a prostituta meio tola, mas compassiva de “Poderosa Afrodite” (1995), de Woody Allen, com a qual venceu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. O antirromance dos dois confere nova graça ao longa, não obstante o eixo dramático ser tão bom que foi replicado (para não dizer plagiado) por Timo Tjahjanto em “A Noite nos Persegue” (2018). Mas o original é sempre melhor que as cópias. “Assassinos Substitutos” vem envelhecendo bem.


Filme: Assassinos Substitutos
Direção: Antoine Fuqua
Ano: 1998
Gêneros: Thriller/Crime/Aventura/Policial/Ação
Nota: 8/10