O filme impressionante da Netflix que vai bugar sua mente e dar um nó nos seus neurônios Mary Cybulski / Netflix

O filme impressionante da Netflix que vai bugar sua mente e dar um nó nos seus neurônios

Conhecido como um dos cineastas mais inovadores e inventivos da atualidade, Charlie Kaufman carrega um Oscar em seu currículo, de melhor roteiro original por “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, além de outras quatro indicações e inúmeras obras reconhecidas e aclamadas, como “Sinédoque, Nova York”, “Quero ser John Malkovich” e “Adaptação”.

Com uma linguagem complexa e profunda, os filmes que escreve e dirige nem sempre são populares e acessíveis, mas se distinguem por sua autenticidade e idiossincrasias. Kaufman é para apreciadores de seu estilo e ritmo de narrativa. Elas nem sempre são dinâmicas, mas podem ser não-lineares, psicodélicas, contemplativas, filosóficas e sempre psicológicas, porque estão a todo momento questionando ou desafiando as angústias, identidade, neuroses e percepções da mente.

Em “Estou Pensando em Acabar com Tudo”, Kaufman nos coloca dentro do labirinto mental de sua protagonista sem nome (Jessie Buckley), e nos faz questionar a todo momento quando as coisas estão acontecendo e se realmente estão acontecendo. Tudo começa quando ela aceita viajar com o namorado, Jake (Jesse Plemons), até a fazenda de sua família, onde ele pretende apresentá-la para seus pais. Embora ela tenha se sujeitado à situação, a protagonista tem dúvidas se realmente deseja permanecer em seu relacionamento, daí o título do filme.

A partir do momento em que entramos no carro com o casal, nos sentimos em uma jornada alucinante entre a realidade e a imaginação da jovem. O espectador, diante de tantos enigmas, tenta a todo momento solucioná-los. Mas devo adiantar, a conclusão da narrativa imodesta de Kaufman só traz ainda mais questionamentos.

O filme é mais uma experiência transcendental e mostra o quanto o repertório criativo de seu mestre está em constante fluidez e renovação. É verdade que o enredo é inspirado livremente no romance homônimo de Iain Reid, mas Kaufman toma as rédeas de sua história para criar metáforas tão surreais quanto uma obra de Salvador Dalí.

Lucy ou Amy, não sabemos ao certo o nome da personagem principal, já que Jake a chama pelos dois nomes em momentos diferentes, está viajando para um lugar a duas horas de distância de sua casa. A viagem com este homem que não tem certeza se conhece bem o bastante para assumir um relacionamento sério se mostra uma jornada sem volta, quando a trama assume ares de thriller psicológico. Jake parece ouvir seus pensamentos durante o interminável percurso até a fazenda de sua família. Quão assustador é estar com uma pessoa que não lhe dá privacidade para pensar?

Quando chega na casa dos pais do namorado, as coisas ficam ainda mais confusas e aterrorizantes, porque os pais de Jake parecem envelhecer e rejuvenescer a cada troca de câmera e cada vez que Lucy (?) sai de um cômodo para o outro, sua estadia se torna uma viagem surreal como se ela tivesse sido exposta a um alucinógeno.

Quando ela entra no quarto de Jake, se depara com uma pilha de mídias, livros, DVDs e coisas que o aproximaram, ao longo de sua vida, mais da ficção que da realidade. Ali estão as referências culturais e intelectuais para a segunda metade do filme, que retrata o retorno ainda mais longo do casal para casa, já depois do jantar com os pais de Jake.

Conforme o thriller caminha, parece adentrar rumos cada vez mais sinuosos, enquanto explora a psique de seus personagens e visita todas as suas memórias, sejam afetivas, traumas, experiências vividas na adolescência e, até mesmo, as jamais vividas, mas imaginadas.

“Estou Pensando em Acabar com Tudo” é bizarro, assustador e diferente de tudo que você já viu. É um quebra-cabeça para a mente e com certeza vai confundir mais do que esclarecer para boa parte dos espectadores.


Filme: Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo
Direção: Charlie Kaufman
Ano: 2020
Gênero: Drama / Suspense
Nota: 8/10