O romance épico com Kate Winslet, no Prime Video, que vai estremecer suas estruturas e abalar seu emocional Divulgação / BBC Films

O romance épico com Kate Winslet, no Prime Video, que vai estremecer suas estruturas e abalar seu emocional

Filmes de romance são comumente conhecidos por construírem representações ilusórias dos relacionamentos amorosos reais. As narrativas se caracterizam por amores à primeira vista, relacionamentos perfeitos e finais felizes e fantasiosos, como nos filmes de princesas da Disney.

Pessoalmente, confesso que gosto de um bom e velho romance clichê, mas também sou fascinada por histórias que representam o amor real — com todos os problemas, erros e acertos, brigas e reconciliações… E “Ammonite” é um belo exemplo desse tipo de filme.

A trama, ambientada no Reino Unido em 1820, nos apresenta a Mary Anning (Kate Winslet), uma paleontóloga que faz importantes descobertas científicas de fósseis marinhos de amonite, um tipo de molusco, ao longo do Canal da Mancha. Mary mora em uma casa simples com sua mãe e dedica suas manhãs a caminhar pela praia em busca de fósseis de amonite, conchas e quinquilharias para vender aos turistas.

Mary é uma mulher séria, reservada, extremamente dedicada ao seu trabalho e um tanto rabugenta. Certo dia, o lorde Roderick Murchinson (James McArdle) a procura para conhecer a cientista que tanto admira e lhe faz uma proposta: acompanhar Mary na sua próxima ida à praia para conhecer seu trabalho de perto, em troca de uma quantia em dinheiro.

Na visita à casa de Mary, o Sr. Murchinson está acompanhado de sua esposa, Charlotte Murchinson (Saoirse Ronan). Charlotte, em contraste com Mary, é uma jovem curiosa e cheia de desejos. Contudo, vive um momento angustiante em seu relacionamento e enfrenta uma grave doença. É nítido seu descontentamento no casamento, já que suas vontades não são atendidas por um marido negligente que não atende às suas expectativas conjugais.

Na primeira parte do filme, Roderick, prestes a embarcar em uma longa expedição, decide não levar Charlotte devido à sua doença. Ele então solicita à Sra. Anning que caminhe diariamente com Charlotte, para que ela possa aprender com Mary e ter uma companhia. No primeiro encontro, a reserva e relutância de Mary em se relacionar com Charlotte são evidentes. Embora tentem quebrar o gelo, ainda há um estranhamento entre elas.

Após a primeira caminhada, Charlotte agrava-se de sua doença. Ela busca ajuda na casa de Mary, que decide acolhê-la. Nos primeiros minutos do filme, é difícil imaginar que elas venham a se aproximar, dado o distanciamento e antipatia mútuos.

O mérito da narrativa é desenvolver esse romance de forma sincera, cautelosa e delicada. O diretor olha para essas personagens com atenção meticulosa, evidente em cada plano de câmera, olhar e silêncio. De forma crua e verdadeira, Charlotte e Mary passam a se conhecer e a se ver sob uma nova luz.

Mary percebe em Charlotte uma jovem repleta de vida, alegria, doçura e gentileza, capaz de amolecer seu coração rabugento. Já Charlotte vê em Mary alguém que a ama verdadeiramente e se preocupa com seu bem-estar. No momento de sua maior vulnerabilidade, Charlotte se deixa levar por essa paixão, e Mary revela sentimentos e desejos há muito reprimidos.

É interessante analisar a trajetória das protagonistas. Mary é solitária, não se permite a felicidade, amizades ou viver com liberdade. Contudo, ao se envolver com Charlotte, ela floresce, deixando para trás seu amargor. Gradualmente, entendemos que sua rigidez esconde uma sexualidade reprimida. Esse entendimento é coroado pela notável interpretação de Kate Winslet.

Charlotte, por sua vez, está presa a um relacionamento problemático com um marido machista e desinteressado. Ela é constantemente subestimada por ele e não vive uma relação afetiva ou sexual genuína. Ao conhecer Mary, tudo muda: Charlotte sente-se amada, cuidada e protegida, encontrando na paleontóloga o que sempre desejou.

Também é notável como o despertar sexual é crucial para ambas, que anseiam por reciprocidade e apreciação em cenários pouco propícios. Ambas desejam se satisfazer e mostrar o quanto se amam.

Ao fim do filme, as duas se separam. Charlotte volta para Londres, e Mary decide visitá-la. Entretanto, a realidade que Mary encontra é diferente do que esperava. Charlotte está apaixonada, cheia de planos, enquanto Mary, mais reservada, prefere sua vida tranquila no interior.

O desfecho revela uma dura realidade: elas não podem ficar juntas. Assim, o filme nos encanta e despedaça ao mesmo tempo, mostrando as esperanças e desilusões do amor. Para nós, espectadores, é uma lembrança de que a vida pode, subitamente, nos conceder ou tomar o que mais valorizamos.

Em conclusão, “Ammonite” apresenta uma história genuína e cativante sobre um amor real, porém efêmero, perdido nas complexidades da vida.


Filme: Ammonite
Direção: Francis Lee
Ano: 2020
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10