Oprimida pela sombra tirana do machismo, Gertrude Barrows Bennett, pioneira da ficção científica e da fantasia sombria, publicou durante toda a sua vida novelas e contos sob o pseudônimo “Francis Stevens”, na senda de outras autores que fizeram o mesmo (como Amandine Dupin, que assinava como George Sand) para se esquivarem da misoginia que sempre permeou o mercado editorial, sobretudo nos Estados Unidos do começo do século 20.
Foi dessa forma que a autora conseguiu conquistar espaços dominados por homens e inserir no meio literário, de maneira sutil, mas, potente, o pensamento feminista “contrabandeado” em narrativas publicadas em revistas de ação, aventura e mistério (as revistas pulp), de público esmagadoramente masculino. Somente em 1952, o público leitor soube que, na verdade, o criador daqueles mundos fantásticos era, na verdade, uma mulher.
Lá fora, a srta. Bennett é modestamente conhecida pelos leitores, tendo sido publicada por um punhado de editoras; por aqui, a autora que chamou a atenção do mestre do horror cósmico, H.P. Lovecraft, ainda é desconhecida do público e somente agora está tendo sua obra resgatada, com textos de apoio e contos extras.
A coleção, inaugurada pela editora Melusine traz para o Catarse a campanha “Ficção científica e fantasia sombria”. Nessa primeira campanha de financiamento coletivo, duas de suas maiores obras podem ser adquiridas pelo leitor: “As Cabeças do Cérbero e Outras Fantasias Sombrias” e “Cidadela do Medo”. É difícil encaixar ambas as obras em um só subgênero da literatura fantástica: viagens no tempo, mundos paralelos, civilizações antigas, mutantes do futuro e do passado. A criatividade e a variedade de temas explorados pela autora prometem ao leitor duas coisas: o queixo caído e os cabelos em pé!