Visualmente deslumbrante, filme da Netflix é perfeito para explorar o cinema de arte Divulgação / Netflix

Visualmente deslumbrante, filme da Netflix é perfeito para explorar o cinema de arte

Dirigido por Elisabeth Vogler e escrito por Rémi Bassaler, Paul Saïsset e Souliman Schelfout, “Pelas Ruas de Paris” é um filme que começou de forma independente, arrecadando fundos por meio do site de financiamento coletivo Kickstarter. Pouco depois, a Netflix se interessou pelo projeto e decidiu investir. Lançado em 2019, o longa-metragem fala da relação de sua protagonista, Anna (Noémie Schmidt), com Paris e como a cidade se tornou uma extensão de suas emoções.

Filmes que giram em torno de cidades, tornando-as tão personagens quanto pessoas, não são tão incomuns. Nova York, por exemplo, é como um ser vivo, respirando e dialogando nas obras de Woody Allen. Nesta obra de Vogler, Paris suspira e grita. Suas ruas estão em quase todas as cenas e faz parte do relacionamento de Anna e Greg (Grégoire Isvarine).

O começo do filme mostra como eles se conhecem em uma boate em Paris e se apaixonam. Na cena seguinte, é como se já tivesse passado algum tempo e o relacionamento já tivesse encorpado. Anna é uma garçonete em um café e Greg trabalha em algo que não fica explícito, mas ele recebe uma proposta para ganhar melhor em Barcelona. Ele chama Anna para se mudar com ele para a cidade espanhola, mas ela não tem intenções de deixar Paris.

Para Greg, é como se Anna estivesse perdida, sem ambições. “Você está flutuando e à deriva”, diz ele à namorada durante uma discussão por uma das ruas da cidade. Ela argumenta que não quer ser uma espécie de empreendedora americana. O passatempo favorito de Anna é correr em competições, maratonas e afins. É quando ela pode direcionar toda a energia que se acumula e se perde dentro dela. Entre cenas que vem e vão, voltando no passado e jogando de novo a história para o presente, o filme está fadado à desordem e confusão, agora que perdeu sua linearidade. Também há as metáforas visuais. Uma fonte que estoura, uma névoa nas montanhas, Anna com peruca loira platinada no centro de um palco de teatro. Também há diálogos desconexos. É possível que nenhum espectador compreenda ao certo a mensagem de Vogler, embora a fotografia e a montagem juntas, pareçam um trabalho bastante artístico e deslumbrante.

Quando o avião de Paris até Barcelona cai, o público fica sem entender bem o que é realidade ou imaginação. Parece que Anna não embarcou no voo, mas pensar sobre sua quase morte a leva a uma viagem de introspecção e reflexão sobre sua vida. Mas, espere. Greg já estava em Barcelona ou ele embarcou no voo que caiu? As coisas não ficam claras e talvez essa seja mesmo a intenção de Vogler: a de flutuar pela imensidão de realidades alternativas que acompanham as nossas escolhas.

“Pelas Ruas de Paris” começou como um curta-metragem. No meio das gravações, houve o ataque no Charlie Hebdo, um incêndio em uma panificadora e outras tragédias. Então, a produção acreditou que deveria continuar explorando aquele cenário de trauma e desconforto social, refletindo as emoções de sua protagonista. O resultado foi uma colagem de várias filmagens de eventos fatídicos daquela era em Paris.

O filme de Vogler é experimental e livre. Ele perambula pela mente da cineasta de um jeito que pode até fazer algum sentido para ela, mas nem tanto para o público. Com belos close-ups, câmeras nervosas e contemplação espacial, “Pelas Ruas de Paris” é um espetáculo visual.


Filme: Pelas Ruas de Paris
Direção: Elisabeth Vogler
Ano: 2019
Gênero: Drama
Nota: 7/10