Intrigante e deliciosa, a melhor série de 2023 está na Netflix e você ainda não assistiu  Lucia Luorio / Netflix

Intrigante e deliciosa, a melhor série de 2023 está na Netflix e você ainda não assistiu

Se você pensa que o feminismo é algum tipo de movimento extremista cuja premissa é odiar homens, sinto muito, mas você está equivocado. O feminismo não coloca homens no centro de nada. O intuito é o oposto. As mulheres no centro de tudo, mas não por qualquer sentimento de superioridade, mas pela busca por equidade, que é a busca pelo equilíbrio e justiça social, considerando as diferenças e injustiças, reparando os atrasos históricos que sofridos. Se não fosse o feminismo, mulheres não votariam, dirigiriam, não teriam carreiras, não usariam calças. As coisas mais básicas e comuns seriam consideradas crimes para mulheres, como há algumas décadas.

Em “As Leis de Lidia Poët” conhecemos a história real e inspiradora de uma das mulheres que atuaram firmemente pela transformação do sistema legislativo na Itália e no mundo. Lidia Poët (Matilda De Angelis) se formou advogada e conseguiu passar no exame da Ordem dos Advogados aos vinte e poucos anos, mas apesar da sua competência em exercer a profissão, o fato de uma mulher frequentar ambientes tipicamente masculinos à época foi uma ofensa aos padrões sociais, fazendo com que a Procuradoria Geral do Reino pedisse pela anulação de sua licença para advogar. Infelizmente, os tribunais de Apelação e Cassação acataram o pedido da procuradoria e anulou o registro profissional da advogada.

Um dos argumentos usados contra Lidia Poët é que as mulheres poderiam usar sua beleza para manipular a decisão dos juízes. Por um tempo, esse tipo de discurso descabido venceu e Lidia e outras mulheres não puderam atuar como advogadas. Mas o que ela tinha não era apenas vontade de exercer a profissão. Poët também tinha paixão e vocação. Nem a decisão do tribunal a fez desistir. Assim como é retratado na série italiana de seis episódios, criada por Guido Iuculano e Davide Orsini, Lidia deu seu jeitinho e continuou atuando na área como assistente do escritório de advocacia de seu irmão, Enrico Poët (Pie Luigi Pasino).

A série, claro, romantiza eventos e cria personagens para favorecer a dramaticidade. Lidia, talentosa, determinada e detalhista, percebe pormenores dos casos que pega e consegue defender seus clientes fazendo suas próprias investigações. O mistério, suspense e romance dão o ritmo à trama, enquanto as dificuldades de Lidia em conseguir atuar em sua profissão não são tratadas com tanto teor dramático. A protagonista apenas as enfrenta como desafios e consegue atropelar os empecilhos, porque está sempre concentrada nos resultados de seu trabalho.

Lidia é focada e apaixonada por direito e, apesar dos belos pretendentes que atravessam seu caminho, ela mantém sua profissão no pódio. Esses pretendentes se tornam seus apoiadores e até a ajudam quando podem, especialmente Jacopo Barberis (Eduardo Scarpetta), um jornalista que consegue mobilizar a imprensa local em favor de Lidia e de seus casos.

Na vida real, ele não existiu, mas é verdade que Poët conseguiu chacoalhar a mídia depois de ter seu registro anulado, causando grande comoção nacional. Ela só conseguiu reaver seu direito atuar como advogada aos 65 anos e foi considerada a primeira advogada italiana. Apesar disso, ela nunca deixou de atuar na área e, também, na mobilização pela emancipação feminina na Itália.

“As Leis de Lidia Poët” é uma série divertida, intrigante e que satisfaz nossos instintos investigativos, mas não é só isso. Também é uma história interessante, histórica e inspiradora para assistir e admirar.


Filme: As Leis de Lidia Poët
Criadores: Guido Iuculano e Davide Orsini
Ano: 2023
Gênero: Policial/Suspense/Biografia
Nota: 9/10