Um banquete chamado Expedição Abissal

Um banquete chamado Expedição Abissal

Uma colher de Guimarães Rosa, uma pitada de Jorge Amado, alguns gramas de Carmo Bernardes, uma xícara de Gabriel García Márquez, mexa à vontade, solte a imaginação, deixe ao ponto, com muita poesia e inventividade. Assim nasceu, com preciosos e precisos toques autorais, “Expedição Abissal”, do jornalista Hélverton Baiano.

Misturar os autores citados, salvo armado de extrema habilidade com as palavras, poderia resultar num Frankenstein literário. Obviamente, não foi o caso, em se tratando de um autor experiente como Hélverton Baiano, que soube conduzir a sua narração com um magistral equilíbrio; da primeira até a última palavra do romance. E mais: sem escorregar em nenhum momento pelas estradas tortuosas das letras.

Expedição Abissal, de Hélverton Baiano
Expedição Abissal, Hélverton Baiano (Astrolábio, 238 páginas)

O autor, partindo de uma saga verídica, recriou uma saga onírica, absolutamente viciante, como nas melhores iguarias literárias. O leitor-comensal é convidado (melhor: é induzido) a se fartar de uma história fantástica, mas com os pés presos no nosso cerrado. Mais precisamente: no complexo de grutas da Serra Geral.

Aliás, não é fortuito, que a história se passe na fronteira entre Goiás e Bahia. Essa fronteira diz muito sobre a história do autor do romance. Nascido em Correntina (BA), migrou ainda adolescente para Goiânia (GO), onde se estabeleceu. Mas nunca abandonou suas origens, sua cultura. Daí porque, Hélverton é um baiano-goiano. Essa ancestralidade está explícita em “Expedição Abissal”.

O romance funciona, também, como amálgama cultural. Tem o tempero dessas terras, desses dois mundos siameses. E dessa mistura de saberes e sabores nasceu um manjar dos deuses. Quem duvidar, que leia (e devore) “Expedição Abissal”. O leitor, com certeza, vai se fartar da melhor iguaria das letras.

Por isso, afianço: não fosse a extrema habilidade do escritor, o resultado desse “prato-romance” poderia ser indigesto. O autor soube misturar bem os temperos. O resultado apurado é fruto de muitas vivências, de muitas leituras (de mundos). Ao fim da aventura, o baiano-goiano se revelou um mestre-cuca de primeira linha. Com isso, deixou a sua marca no universo “culinário-literário”. Venha, leitor, delicie-se, farte-se, desse banquete literário. Sem moderação.