Último dia para assistir na Netflix ao filme que Quentin Tarantino considera um de seus favoritos Sergej Radović / Paramount Pictures

Último dia para assistir na Netflix ao filme que Quentin Tarantino considera um de seus favoritos

Perdidos em algum lugar da cadeia evolutiva, monstros que escaparam da extinção continuam a habitar a Terra. Pior ainda, não se contentam em ser meros coadjuvantes. Em “Predadores Assassinos”, essas criaturas marcam presença num thriller repleto de jumpscares meticulosamente calculados ao longo da trama, em quantidade talvez excessiva, mas sem comprometer arcos dramáticos mais delicados — delicados para um filme dessa natureza, é importante frisar.

O diretor francês Alexandre Aja tem se destacado por explorar em suas histórias situações que testam a capacidade de lidar com cenários extremos, onde qualquer erro pode ser fatal. Isso é evidente em “Oxigênio” (2021), “Piranha 3D” (2010) — um remake do filme de 1978, dirigido em colaboração com John Gulager — e “The Hills Have Eyes” (2006). Em seu filme de 2019, a abordagem é semelhante, com inovações tecnológicas que conferem um senso de realidade cada vez mais impactante, o que cativa os fãs do gênero e conquista novos admiradores ao longo de seus 87 minutos.

É impossível não remeter a “Tubarão” (1975), de Steven Spielberg, ou a “Águas Rasas” (2016), dirigido por Jaume Collet-Serra, já nas primeiras cenas de “Predadores Assassinos”. Enquanto “Águas Rasas” foi filmado na Austrália e sugere que a praia enfrentada pela personagem de Blake Lively está no México, “Predadores Assassinos” situa sua protagonista, Haley Keller, uma nadadora profissional interpretada por Kaya Scodelario, na piscina da Universidade da Flórida, em Gainesville.

Preparando-se para mais uma competição, Haley relembra os conselhos de seu pai, Dave, que soam quase como uma maldição devido ao tom opressor. Fica claro que Haley tem muitos conflitos a resolver com Dave, interpretado por Barry Pepper, especialmente nos piores momentos possíveis. Aja utiliza esse pano de fundo para alicerçar a trama, onde o pai se torna uma figura carrasca, justificando a severidade como preparação para a vida adulta. Esse tema, amplamente explorado no cinema, é também central em filmes como “O Discípulo”, do diretor indiano Chaitanya Tamhane. Além do pai, Haley tem uma relação complicada com sua irmã, Beth, interpretada por Morfydd Clark, com quem mantém um vínculo respeitoso e afetuoso. Uma conversa telefônica entre as duas no final do primeiro ato revela uma compreensão distorcida do amor materno.

A rotina de Haley é interrompida por uma das frequentes tempestades que atingem os Estados Unidos, especialmente no Sul, propenso a furacões devido à sua geografia única. Ao visitar a casa do pai, ela o encontra ferido no porão inundado, dando início à verdadeira ação de “Predadores Assassinos”, apesar da história ter fluído até então.

O antagonista se revela em seguida. A cinematografia de Maxime Alexandre destaca o aspecto aterrorizante do crocodilo gigante que invade o porão, contrastando com o breu cinzento do ambiente, pontuado apenas pelo casaco laranja de Haley e a carapuça verde-escura da criatura. A tensão escala até o clímax, com Haley e o crocodilo em um embate de vida ou morte, enquanto o resto do elenco de apoio encontra seu fim nas garras das outras feras.

Nesse segmento, Aja brinca com a metalinguagem ao replicar uma famosa cena de ataque de monstros a uma heroína, elemento comum em blockbusters do gênero. Um ovo de crocodilo para quem adivinhar a referência.

Aja mantém o ritmo do filme ao equilibrar as tensões entre Haley e as criaturas com cenas envolvendo saqueadores do outro lado da rua, que tentam em vão roubar uma loja de conveniência. Entre esses momentos de ação, há breves pausas para respirar, cortesia de Sugar, a schnauzer-terrier de Haley, que sobrevive apesar da negligência de sua dona.

Embora “Predadores Assassinos” não seja o melhor exemplo do potencial de Alexandre Aja, o filme oferece uma alternativa de entretenimento interessante para fãs de répteis furiosos e relações familiares complexas, sem pretender reinventar o gênero.


Filme: Predadores Assassinos
Direção: Alexandre Aja
Ano: 2019
Gênero: Terror/Ação/Aventura
Nota: 8/10