Bloodline,  The Killling e Mare of Easttown: o sentido do trágico moderno

Bloodline, The Killling e Mare of Easttown: o sentido do trágico moderno

Há pouco espaço no mundo atual para uma tragédia, com o significado tradicional desse formato. A boa história trágica tinha um conflito público que envolvia a relação privada e complexa de uma família. Poderia ser o drama do Édipo de Sófocles, na Grécia antiga, ou o trono manchado de sangue de Macbeth de Shakespeare.

A vida moderna tem o drama das pessoas nas suas casas ou nos ambientes de trabalho. Algo mais simplório e que não depende da interferência dos deuses. Apesar disso, vez por outra surgem boas histórias trágicas. No streaming, exemplos bons são “Bloodline” e “The Killling”, no Netflix, ou “Mare of Easttown” na HBO.

Chama a atenção nessas séries o uso recorrente do luto, da perda violenta de alguém da família, como ponto central da história. Em “Bloodline” (2015-2017), a tragédia ronda a família Rayburn, que vive num local paradisíaco no sul da Flórida, nos Estados Unidos. O estopim da trama é a volta do filho pródigo, Danny.

Ele foi responsabilizado pela morte da irmã na adolescência e assumiu a punição de ser praticamente expulso de casa. É a expiação da tragédia grega: o sujeito vai embora para carregar para longe os males que ocorreram. Mas o retorno de Danny significa abrir o baú, a cripta, ou seja, a caixinha fechada de segredos familiares.

Os segredos estão também no centro da série “Mare of Easttown”, estrelado pela atriz Kate Winslet. Ela é uma policial que investiga o sumiço de uma jovem na pequena cidade e o assassinato de outra moça. O grande lance é o jogo de pistas falsas, que nos leva a pensar em diferentes assassinos, e a revelação das tragédias das famílias.

Talvez “The Killing” (2011) seja a grande história de um luto. A série exibida pelo Netflix tem duas frentes: a investigação da morte de uma jovem na cidade de Seattle, nos Estados Unidos, e as reações detalhadas do sofrimento de sua família. Poucas vezes uma série foi tão fundo ao contar o sentido trágico de uma perda.