É preciso reafirmar a dignidade das Ciências Humanas, contra o negacionismo dos ventríloquos

É preciso reafirmar a dignidade das Ciências Humanas, contra o negacionismo dos ventríloquos

São tantas as asneiras que temos ouvido nesses tempos de Idade Média à brasileira, quando milhões de pessoas acreditam mais em bruxos do que em cientistas, em superstições do que em Ciência, que urge exaltar a clássica tríade das Ciências Humanas: Sociologia, História e Filosofia. Para os autômatos que apenas repetem o que ouvem, são cursos de “comunistas e maconheiros”. Ou seja: “vagabundos inúteis”! Graças à luz do conhecimento esses profissionais estão imunes a tal preconceito, que apenas depõe contra a inteligência dos que os insultam. É preciso reafirmar a dignidade das Ciências Humanas, contra o negacionismo dos ventríloquos.

O negacionismo atual começou por negar a Política. Foi o começo de tudo, e explica muita coisa. Há coerência, apesar do déficit de tutano cerebral dos novos paladinos da sabedoria. Pois, amigos, quero ver fazer política sem Sociologia! Apesar de Brasília preferir agir no escuro (o que explica tantas aberrações), não existe governo viável sem programas e projetos. Sem realidade convertida em dados. Sem conhecimento de uma população, não há (como não há nesse Brasil dos negacionistas) políticas públicas. Não há serviços de segurança, de saúde e de educação. Para a inclusão de pessoas. Para combater as enormes desigualdades que nos tornam um dos países mais injustos do mundo. Portanto, a Sociologia é útil!

Nega-se também a História. Isso explica nosso retrocesso: faltou memória a milhões de brasileiros aptos a legitimar o obscurantismo presente. Porque a História é sinônimo de memória. Imagine um individuo com Alzheimer. Também existe Alzheimer Coletiva: é a doença da sociedade que não se recorda de seu passado; que nem sequer o reconhece. Por isso muitos vegetam como plantas. Se tivessem prestado atenção às aulas de História não estariam regredindo à Idade Média, quando prevalecia o irracionalismo e punha-se fogo nos inimigos, ao invés de ingressar no futuro. Em vez de estar perdidos no nevoeiro da ignorância, a luz do Sol ia mostrar-lhes a direção. Portanto, a História é necessária!

E, por fim, nega-se a Filosofia. Então não se sabe por que defender a Medicina e a Engenharia, posto que procedem da razão. Vê-se que sem Filosofia não há argumentação racional, e muito menos… a própria Ciência! Negá-la é como pretender o telhado sem as paredes, as paredes sem o alicerce. Sem Filosofia não há lógica. Então, cuidado: é uma ofensa à Matemática desonrar a Filosofia: são irmãs siamesas. Sem as bases da Filosofia, senhores engenheiros – Pitágoras, Descartes, Leibnitz etc. -, vocês sequer existiriam. Cairiam num vazio caótico de números. Portanto, louvem os sábios ao invés dos medíocres. Também a Filosofia é útil e necessária!

Negar a Sociologia, a História e a Filosofia é a prova cabal da irracionalidade e do obscurantismo. E o utilitarismo derivado e canhestro que domina a mentalidade tecnocrática brasileira, atual, esconde isso. Porque é perverso. Porque não é produto da escola, mas de sua ausência. As pessoas não são máquinas. E a única maneira de preservar sua humanidade é permitir que conheçam os benefícios profiláticos das Ciências Humanas e da Cultura. Ou seja: além de obedecer, reflitam; além de dizer amém, tenham senso crítico. E além dos braços, usem também o cérebro, para não serem escravos.

Ilustração: Engin Akyurt