Enquanto o Brasil compra containers para guardar corpos, os políticos decidem reabrir os shoppings

Enquanto o Brasil compra containers para guardar corpos, os políticos decidem reabrir os shoppings

Paulatinamente, os países ao redor do globo estão tentando retomar suas atividades na normalidade que a pandemia permite. Após uma longa jornada de isolamento social, com um cenário de diminuição de novos casos e afastamento de um possível colapso dos sistemas de saúde, muitas nações começaram a flexibilização do confinamento. Enquanto isso, no Brasil, autoridades públicas acenam com um relaxamento sem sentido, em um momento de explosão de novos casos e da sequência de recordes diários de óbitos. A preocupação com vida e a análise científica, por aqui, dá lugar ao imediatismo irresponsável.

Depois do afastamento de uma primeira leva do surto, naturalmente as medidas rigorosas tenderiam a ser diminuídas. Assim ocorreu, por exemplo, na Nova Zelândia, onde foram adotadas duras práticas de isolamento ao longo de dois meses, e que agora, depois de 20 dias sem novos casos, permite até mesmo a realização de eventos com aglomeração. A Itália, que foi o epicentro do vírus e assustou o mundo com imagens aterrorizantes, após a contenção dos números diários prepara a sua reabertura gradual e responsável. Outros países europeus seguem o mesmo norte, e em alguns deles o impacto da pandemia foi bastante pequeno.

No Brasil, após um interstício de pseudoisolamento social, com um índice pífio de cumprimento das medidas adotadas e uma indiferença premeditada pelo governo federal, a tendência é a reabertura. Na contramão da lógica, o país, que acaba de alcançar o pico mundial na média de mortes diárias, força a barra e — utilizando uma linguagem popular — “paga de maluco” para atender aos anseios de empresários. Os critérios para a flexibilização por aqui parecem ser apenas o “achismo” e a irresponsabilidade.

Infelizmente, com a consolidação precipitada da reabertura, não há como evitar o raciocínio de que o país aposta na sorte contra a morte. A principal medida que a liderança política nacional resolveu adotar para conter o vírus foi maquiar os números e “decretar” a redução das mortes. Com desinformação deliberada, além de um ínfimo número de testes e evidente subnotificação, o prolongamento do caos parece inevitável. Reabrir o que não se fechou: nada pode representar mais o jeitinho brasileiro do que isso. Quando disseram que queriam colocar o país no primeiro lugar do mundo, realmente eles não estavam brincando. Infelizmente, estamos assistindo a uma tragédia anunciada.