Antes do tribunal, antes da polícia, antes mesmo da notícia que atravessa a cidade como rumor inevitável, há um menino escondido atrás das árvores, ouvindo o que não deveria. Essa é a origem de “O Cliente”, filme de Joel Schumacher de 1994, baseado no romance de John Grisham. Não se trata de suspense no sentido clássico, mas de uma lenta corrosão: o peso de um segredo que se instala como doença crônica, contaminando corpos, casas, instituições.
Nos últimos anos, a Netflix passou por críticas e questionamentos sobre a relevância de seu catálogo, diante da ascensão de concorrentes que apostam pesado em produções próprias e licenciadas. Porém, quando se analisa o conjunto de estreias recentes, percebe-se que a plataforma ainda entrega obras capazes de unir entretenimento de alto nível, narrativas instigantes e uma qualidade técnica que justifica a assinatura. Esses lançamentos não só atraem pelo impacto imediato, mas também pela capacidade de se manterem na memória do espectador, reafirmando o valor do streaming como espaço privilegiado para grandes histórias.
Alguns filmes não se contentam em serem assistidos apenas uma vez. Eles carregam tantas camadas narrativas, tantos detalhes simbólicos e tanta intensidade emocional que, ao terminá-los, a única vontade do espectador é começar tudo de novo, buscando novos significados em cada cena. Essas obras não apenas entretêm, mas criam um vínculo profundo com quem as assiste, seja pelo impacto da trama, pela força estética ou pela forma como dialogam com questões universais da existência. E é justamente esse poder de permanecer na memória que faz deles experiências inesquecíveis.
Tem gente que pensa que filme bom precisa ter três horas de duração. Não é verdade. Embora grandes cineastas adorem narrativas mais elaboradas e longas, há, sim, obras curtas que valem muito a pena. Muitas vezes, é exatamente na concisão que essas histórias encontram sua força: são diretas e envolventes. Conseguem condensar emoções e reflexões em menos de 90 minutos. Esse formato compacto não significa superficialidade. Pelo contrário, exige precisão, sensibilidade e intensidade. É nesse tempo enxuto que elas dizem mais que as grandes (literalmente) produções.
Um casal nasce do acaso e se sustenta no improviso da juventude: quarto minúsculo, empregos frágeis, sonhos que confrontam boletos e credenciais da cidade grande. Quando o tempo avança, o que antes era impulso vira cálculo; o que era promessa se desgasta em silêncio. Anos depois, o reencontro não pede revanche, mas arqueologia: revirar escolhas, medir distâncias, reconhecer que amor é também questão de logística.
