A batalha pela sobrevivência demanda serenidade. Avançamos um passo de cada vez, planejando meticulosamente cada movimento, como se temêssemos acordar o monstro do rancor que reside em cada um de nós, seja em um canto recôndito ou mais evidente. Seguramos as lágrimas, ignoramos as emoções mais fundamentais — tão intensas que se tornaram parte inalienável de nossa humanidade.
“O Mediador” é uma trama complexa, para o bem e para o mal, em que o espanhol Esteban Crespo parece analisar cada lance com todo o esmero, feito se num xadrez ou um outro jogo de tabuleiro qualquer, com a ressalva de que as peças estão vivas, dependem de seus empregos para suprir necessidades básicas, sofrem decepções, magoam-se, e, claro, estão sob a ameaça constante da morte, uns mais que outros.
Se há duas coisas flagrantemente desiguais entre si, essas coisas são a cozinha e a vida. A primeira só funciona a contento se uma série de procedimentos são observados à risca. Antes de tudo, a limpeza, não se faz nada numa cozinha suja. Tudo limpo, chão lavado, pratos secos, panelas ariadas, pode se começar a pensar na comida propriamente, afinal, é para isso que uma cozinha serve.
O argumento central do filme “Identidade”, de Rebecca Hall, parece simples: Irene, interpretada por Tessa Thompson, e Clare, vivida por Ruth Negga, voltam a se encontrar depois de anos sem se verem. À medida que retomam o contato, ambas compartilham suas apreensões uma com a outra, ansiando por exorcizar fantasmas que insistem em atormentá-las.
Dosar o teor de drama, de modo a não permitir que a trama pareça inconsequente, sem deixá-la se transformar numa ode ao fim do mundo, injustificadamente fatalista e, por conseguinte, pouco verossímil, é uma equação complexa, cuja resolução demanda sensibilidade. Passar por cima do bom senso em nome da emoção não se prova uma boa ideia.
