Tyler Perry revisita um capítulo quase esquecido da Segunda Guerra Mundial para narrar a trajetória do 6888º Batalhão, composto exclusivamente por mulheres negras encarregadas de organizar correspondências para os soldados americanos. Lideradas pela major Charity Adams Earley, elas enfrentam a resistência institucional e a invisibilidade imposta por uma sociedade que não as reconhecia.
No filme “Reality”, dirigido por Tina Satter, Sidney Sweeney dá vida à ex-analista com uma performance intensa e contida. A produção se destaca por sua abordagem meticulosa: o roteiro se baseia inteiramente na transcrição real do interrogatório conduzido pelo FBI na casa de Winner, na Geórgia. O longa retrata com precisão as dinâmicas de poder entre os agentes e a investigada, expondo as tensões latentes de uma conversa que começa de forma aparentemente casual, mas logo se transforma em um cerco implacável.
A recriação de época é um espetáculo visual que transporta o espectador para a vibrante Beale Street, em Memphis, onde Elvis, vivido com intensidade hipnótica por Austin Butler, encontra sua voz. A performance de Butler transcende a mera imitação: ele canaliza a essência de um jovem que desafiava convenções, usando não apenas sua voz, mas cada gesto e olhar para traduzir as angústias e a paixão do ícone. O filme captura a dualidade de Presley: um homem que cruzava barreiras culturais, mas que também carregava o peso de cada transgressão.
A jornada de Malcolm X, das ruas violentas do Harlem às tribunas da militância, ganha corpo e alma na adaptação monumental de Spike Lee. Entre a rebeldia da juventude e a rigidez ideológica da maturidade, o filme explora as múltiplas facetas do líder negro sem amenizar suas contradições. Denzel Washington oferece uma atuação magistral, conduzindo o espectador por um relato que, mais do que biográfico, ressoa como denúncia e reflexão.
Embora sua jornada evoque a melancolia social de “Eu, Daniel Blake” (2016), de Ken Loach, ou a introspecção de “As Confissões de Schmidt” (2002), de Alexander Payne, é a presença de Tom Hanks que dissipa qualquer comparação simplista. Com sua habitual maestria, Hanks transcende o clichê do velho mal-humorado, transformando Otto em um personagem ao mesmo tempo exasperante e cativante. Desde seus primeiros momentos em cena, ele se apropria do papel de forma tão singular que faz com que a interpretação de Rolf Lassgård na versão sueca se torne apenas uma referência distante.
