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Talvez o algoritmo não esteja nos escondendo. Talvez só esteja nos ensinando a desaparecer

Talvez o algoritmo não esteja nos escondendo. Talvez só esteja nos ensinando a desaparecer

Quando milhares de sites brasileiros — culturais, jornalísticos, científicos — viram sua audiência evaporar sem explicação, sem erro, sem aviso, o que se revelou não foi uma falha no sistema. Foi o próprio sistema funcionando com exatidão. O Discover foi vendido como uma ferramenta de descoberta. Mas a descoberta exige risco, exige abertura ao que é novo, ao que não se esperava, ao que talvez desconcerte. Isso dá trabalho. Não converte. Não segura o dedo rolando por 12 segundos. Então a curadoria virou conforto. E o conforto virou código. Mas o problema não é só o conteúdo leve. O problema é a reorganização secreta da superfície da internet.

Salmo de um pagão, de número 69 — dr. Alonso Monteiro da Silva

Salmo de um pagão, de número 69 — dr. Alonso Monteiro da Silva

Um médico boêmio, um jardineiro tardio, um humanista convicto. Alonso Monteiro da Silva viveu como poucos ousam: entre a leveza das madrugadas e a gravidade da Medicina, sem jamais perder a integridade. Descobriu lesões que salvaram vidas, fundou instituições, acolheu pacientes com afeto e colegas com riso. Preferia estar presente a ser lembrado — e, mesmo assim, é inesquecível. Viveu 69 anos, mas carregava séculos nos olhos. Esta é uma homenagem a quem transformou a existência em arte imperfeita e inteira.

Não é um livro. É um sintoma, um organismo elétrico enterrado na sua cabeça Foto / Cosmin Bumbutz

Não é um livro. É um sintoma, um organismo elétrico enterrado na sua cabeça

O protagonista é um homem sem nome. Professor, sem alunos memoráveis. Escritor, sem obra publicada. Alguém que vive em Bucareste como quem respira o ar errado. A cidade, ali, não é cenário: é sintoma. Umidade que sobe pelas paredes, poeira de giz que se acumula na pele, salões públicos que cheiram a fungo e náusea. O mundo real range. Há algo nele que não encaixa — e a literatura não tenta consertar.

A certeza da incerteza

A certeza da incerteza

Muito se fala sobre os dilemas da adolescência, mas pouco se discute o que acontece quando um adolescente simbólico ocupa o cargo mais poderoso do planeta. Com atitudes impulsivas, vaidade exagerada e um desprezo quase divertido por consequências, Trump encarna o arquétipo do jovem mimado com poder demais nas mãos. Seus decretos performáticos, suas falas narcisistas e sua relação com o espelho sugerem mais um garoto entediado do que um estadista. Em vez de governar, ele joga — com o ego, com o país, com o mundo. A economia reage com espanto, os analistas se confundem, e a única certeza parece ser a incerteza.

Tempo perdido é tempo gasto com gente ruim

Tempo perdido é tempo gasto com gente ruim

Tempo bom, sujeito a pancadas de chuva na minha horta. Em matéria de lama, cada gota que finca a poeira do chão me conclama, me importa. Já faz tempo que estou voltando ao pó, seja dando a cara a tapa, seja chorando atrás da porta. Sobram lágrimas, no entanto, há uma escandalosa escassez de água nas plagas do planeta. A falta de empatia tem provocado a desertificação dos corações humanos. De tal sorte que sinto uma inconteste vontade de chorar.