Já achei que a saudade nem sempre era falta, mas uma presença imortalizada dentro da gente. Já vi a saudade em aeroportos, rodoviárias e domingos à noitinha, quando ela partiu junto com a esperança. Mas, também, já senti aquela saudade que dói como se tivessem tirado um pedaço da gente.
Carlos Drummond de Andrade disse que “mãe, na sua graça, é eternidade”. Sim, mãe é a palavra mais bela. Mãe é caminho; colo que consola. Mãe é mão que segura; beijo que ameniza febre. Porque “mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada”. Mãe vela as noites mal dormidas para espantar a dor e a angústia do seu menino. Mãe chora junto.
Escrever é terapêutico. Palavras abrem caminhos e acedem luzes. O distanciamento social tem inundado minha cabeça de ideias. Tento organizá-las. Deixo-as entrar. Podem vir, me guiem. Me levem às lembranças do passado e dos dias anteriores — e olha que alguns dias nem estão tão distantes assim.
Quando nossa vida voltará ao normal? Esse é o pensamento que me acompanha diariamente. Tenho sentindo falta da minha rotina. Sim, daquela correria que, às vezes, me deixava cansada ao final do dia. Hoje, aquela vida parecia normal, e não louca. Loucura mesmo é esse negócio de pandemia.
Fiquei olhando para o papai. Reparei o cabelo grisalho e as rugas ao redor dos olhos. Tentei me lembrar de como ele era mais jovem e recordei algo que estava perdido nos esconderijos da minha memória: nunca fui parecida com ele. Desde pequena, ouço as pessoas dizerem que sou a cara da minha mãe.