Se houvesse um encontro entre “A Vingança dos Nerds” (1984), dirigido por Jeff Kanew, “Meninas Malvadas” (2004), de Mark Waters, e “Legalmente Loira” (2001), sob a direção de Robert Luketic, o resultado provavelmente se aproximaria do que Joe Nussbaum realizou aqui. ”Ela e os Caras” parte do clichê da jovem deslocada que, ao sair da casa paterna e ingressar na universidade, esbarra em desafios inesperados, incluindo a constatação de que o mundo é muito mais hostil do que se poderia imaginar.
A protagonista, Sydney White, perdeu a mãe ainda na infância e cresceu sob os cuidados do pai, um empreiteiro de pequeno porte que a criou entre operários bem-humorados, mas desajeitados. Criada nesse ambiente masculino, ela acreditava estar preparada para qualquer situação, até se deparar com a absurda estratificação social imposta pelas fraternidades estudantis. A trama sugere uma crítica à superficialidade desses grupos, mas o diretor opta por focar na jornada pessoal de Sydney ao se ver inserida em um ambiente onde ninguém parece compartilhar sua visão de mundo. Para o bem e para o mal.
A história se desenrola quando Sydney se despede do pai, interpretado por John Schneider, e parte para a Universidade Atlântica da Flórida, onde é recebida na Kappa Phi Nu. Seu ingresso na irmandade não é mero acaso: sua mãe também fez parte do grupo, o que a torna uma espécie de herdeira dentro daquele universo marcado por mulheres esguias, cabelos perfeitamente alinhados e uma inclinação evidente para o casamento vantajoso. Com sua postura despretensiosa e figurino despojado, Sydney destoa completamente do padrão predominante, e o roteiro de Chad Gomez Creasey explora essa discrepância com humor e crítica velada.
O ponto de conflito está na figura de Rachel Witchburn, a líder da Kappa, cujo sobrenome — um jogo de palavras com “bruxa” e “queimar” — antecipa sua personalidade implacável. Determinada a manter a seleção social dentro da irmandade, Rachel se empenha em isolar Sydney, cuja maior afinidade recai sobre os párias do campus: os moradores do Vortex, um grupo de excluídos que, rejeitados pelos demais alojamentos, encontram refúgio em uma casa decadente situada nos limites da universidade.
Em dado momento, Sydney é expulsa da Kappa por Rachel, e o enredo segue um curso previsível. Amanda Bynes, no entanto, imprime carisma à protagonista, mantendo o ritmo do filme e sustentando sua interação com personagens excêntricos, como Jeremy, que se comunica melhor através de um fantoche de cão, e Terrence, um universitário que se recusa a deixar o Vortex mesmo após anos de formação concluída.
Entre os dois extremos, Sydney transita ora em confronto direto com Rachel, vivida por Sara Paxton, ora oferecendo apoio a seus amigos rejeitados, interpretados por Adam Hendershott e Jeremy Howard. Seu dilema se intensifica quando Tyler, ex-namorado de Rachel, passa a demonstrar interesse por ela, criando mais tensão na trama. Joe Nussbaum conduz essas questões com competência, explorando a boa sintonia entre Bynes e Matt Long, que interpreta Tyler.
Embora se proponha a revisitar o formato de comédias adolescentes que marcaram o cinema do início dos anos 2000, o filme também evoca clássicos do besteirol dos anos 1980 e ainda se atreve a brincar com a estrutura de “Branca de Neve e os Sete Anões”, conto dos Irmãos Grimm, publicado entre 1817 e 1822. No entanto, essa combinação de referências, por mais promissora que pareça, acaba resultando em um conjunto que, apesar de divertido, não chega a se destacar dentro do gênero.
★★★★★★★★★★