Oscar Wilde (1854-1900) foi um gênio que moldou sua vida como um reflexo de sua arte. Num tempo em que a moralidade rígida vitoriana ocultava a decadência social, ele tinha a ousadia de questionar normas sem cerimônia, usando uma eloquência que só mentes brilhantes conseguiam decifrar. Seu sarcasmo e sua perspicácia o tornaram uma figura de destaque na Londres puritana, onde ele desafiava a hipocrisia das elites, expondo verdades que ninguém ousava admitir.
Wilde explorou como ninguém a angústia de ser diferente em uma sociedade conformista. Quando perceberam que suas palavras clamavam por uma liberdade sufocada, seus admiradores recuaram, horrorizados, deixando-o só com a consciência de que sua maldição estava lançada. Em “O Retrato de Dorian Gray”, Oliver Parker capta a essência dessa maldição ao revelar a decadência de um jovem aristocrata seduzido pela beleza eterna, mantendo o tom gótico e filosófico do romance de 1890. A adaptação atualiza o dilema moral de Dorian enquanto ecoa a sofisticação de Wilde, ampliando o impacto psicológico da narrativa.
Wilde, pioneiro do esteticismo, chocou sua época ao expor paixões inconfessáveis com um estilo literário refinado. Seu retrato de um amor proibido desafiou convenções, antecipando mudanças que, no cinema, evoluíram do cômico “Quanto Mais Quente Melhor” (1959) ao sombrio drama de Dorian Gray. O roteiro de Toby Finlay hipnotiza como uma serpente prestes a atacar, oferecendo ao espectador a ilusão de um conto de fadas enquanto conduz a história para um desfecho sombrio, simbolizado pelo retrato que revela a alma corrompida do protagonista.
A aparência angelical de Dorian, com sua pele translúcida de vampiro, dá ao filme um tom ambíguo, intensificado pela presença de Lord Henry Wotton, que vê em Dorian a juventude que ele perdeu, ignorando as trevas que o cercam. Ben Barnes e Colin Firth dão vida aos personagens com uma fidelidade surpreendente à complexidade de Wilde, ainda que Parker se desvie em subtramas menores. Ao destacar aspectos superficiais, o diretor deixa em segundo plano o amor proibido e as ilusões que definem o destino trágico de Dorian, enfraquecendo o impacto moral que Wilde tão magistralmente criou.
★★★★★★★★★★