Chegar aos vinte e poucos anos é como atravessar uma ponte entre dois mundos: de um lado, a inocência confortável da infância; do outro, a exigência de ser adulto. É a fase em que você talvez tenha mudado de curso mais de uma vez ou, mesmo formado, ainda não encontrou um emprego que corresponda às expectativas. Se já se sente plenamente estabelecido, parabéns, faz parte de um seleto grupo. Para a maioria, contudo, essa década é marcada por uma caminhada incerta, com pausas para pedir orientação aos pais sobre coisas aparentemente banais, como preencher o imposto de renda.
Jessica James (Jessica Williams) vive exatamente nesse terreno instável. Aspirante a dramaturga e recém-saída de um relacionamento longo, ela busca equilíbrio entre a ambição de fazer sucesso e o desafio de se desconectar do passado. Apesar de sua autodeclarada insegurança, Jessica exibe uma personalidade audaciosa, quase sempre mascarada por uma confiança que beira o teatral. Sua introdução é vibrante: ela dança desajeitadamente pelos corredores de casa, uma imagem que reflete seu charme despretensioso e sua desconexão com os padrões esperados de uma protagonista tradicional.
Com 1,80m e uma presença impossível de ignorar, Jessica enfrenta uma série de rejeições enquanto tenta inspirar seus alunos de teatro em uma ONG. Sua força, entretanto, está na autenticidade: ela é imperfeita, desastrada e pouco inclinada a agradar, características que a tornam surpreendentemente humana. É essa honestidade crua que chama a atenção de Boone (Chris O’Dowd), um desenvolvedor de aplicativos divorciado que, diferente de outros pretendentes recentes de Jessica, enxerga beleza na tempestade que ela carrega.
O relacionamento entre Jessica e Boone é construído com humor ácido, encontros atrapalhados e uma química que vai além do óbvio. Boone, ainda preso às sombras de sua ex-esposa, encontra em Jessica um desafio revigorante. Enquanto isso, ela luta para não se prender ao ex, Damon (LaKeith Stanfield), cuja presença parece mais um reflexo do que foi do que do que ainda pode ser. Stanfield, com sua energia magnética, entrega um papel menor que merecia mais espaço, mas ainda assim impacta com profundidade.
Dirigido e escrito por Jim Strouse, “A Incrível Jessica James” mistura comédia e reflexão ao explorar os dilemas do amadurecimento millennial. A narrativa aborda desde a busca por independência até a superação de cicatrizes emocionais, sem perder o tom leve e espirituoso. Jessica Williams brilha com uma performance que equilibra carisma e autenticidade, enquanto Chris O’Dowd entrega a dose exata de humor desajeitado. É uma história que, apesar de alguns desequilíbrios, cativa pela sinceridade com que trata os altos e baixos de seus personagens.
★★★★★★★★★★