Do livro para o streaming: a adaptação da Netflix que emocionou milhões de leitores em todo o mundo Anna Camerlingo / Netflix

Do livro para o streaming: a adaptação da Netflix que emocionou milhões de leitores em todo o mundo

A guerra não só destrói cidades, mas fragmenta famílias. Durante a Segunda Guerra Mundial, diversas operações de evacuação foram implementadas para proteger crianças dos horrores do conflito. Exemplos notáveis incluem a Operação Pied Piper, que levou milhares de crianças inglesas das áreas urbanas para o interior, e os “trens das crianças”, que resgataram jovens judeus da perseguição nazista, oferecendo-lhes refúgio em outros países.

No drama italiano “O Trem Italiano da Felicidade”, dirigido por Cristina Comencini e baseado no livro “Crianças da Guerra: A História Sobre o Trem Italiano da Felicidade”, de Viola Ardone, essa realidade se desenha em uma Itália assolada pelo pós-guerra. A narrativa resgata a história de crianças transferidas do empobrecido sul para o próspero norte como uma tentativa desesperada de sobrevivência em meio ao colapso econômico e à ausência dos homens perdidos no front.

O protagonista, Amerigo Speranza (Christian Cervone), é um menino napolitano de sete anos, criado pela mãe Antonietta (Serena Rossi) em uma rotina de privações e travessuras, onde a infância se equilibra entre a dureza da realidade e a inocência dos jogos. Quando a mãe, movida pela necessidade, decide enviá-lo ao norte por uma iniciativa do Partido Comunista Italiano e da Unione Donne Italiane (UDI), a vida de Amerigo se transforma radicalmente.

Em sua nova casa, ele é acolhido por Derna (Bárbara Ronchi), uma mulher solteira que oferece ao menino a generosidade e a estrutura que nunca experimentara. Enquanto Antonietta representa a resiliência de uma mãe endurecida pela miséria, Derna personifica o afeto e a abundância, proporcionando a Amerigo não apenas uma mesa farta, mas a liberdade de brincar e aprender. Em meio às colinas do norte, ele descobre sua paixão pelo violino, uma janela para um mundo mais promissor.

Contudo, o coração do menino se divide. Mesmo na fartura, ele sente a ausência da mãe e anseia por retornar à sua origem. A troca de cartas entre eles reflete um elo que resiste à distância. Quando finalmente retorna a Nápoles, Amerigo carrega consigo não apenas um instrumento, mas um novo olhar sobre a vida. Porém, a recepção de Antonietta é amarga — a mãe percebe que não pode igualar o conforto oferecido por Derna. Esse abismo entre duas realidades se revela insuperável, afastando mãe e filho em silêncios dolorosos.

Com uma atmosfera que evoca a ternura e a nostalgia de “Cinema Paradiso”, o filme se ancora nas atuações pungentes de Rossi e Ronchi. Cada cena é embalada pela trilha envolvente de Nicola Piovani, vencedor do Oscar. “O Trem Italiano da Felicidade” desponta como um drama tocante e multifacetado, uma obra que mereceria figurar entre os grandes destaques do ano, mesmo que não tenha sido inscrita para o Oscar de 2025.

Filme: O Trem Italiano da Felicidade
Diretor: Cristina Comencini
Ano: 2024
Gênero: Drama
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★