Ficção científica assistido por 20 milhões de assinantes nos primeiros 3 dias de estreia na Netflix Divulgação / Netflix

Ficção científica assistido por 20 milhões de assinantes nos primeiros 3 dias de estreia na Netflix

Scott Westerfeld alcançou reconhecimento mundial com o lançamento de “Feios” em 2005, consolidando-se como um dos autores mais influentes da ficção científica jovem-adulta. A série vendeu impressionantes 3 milhões de cópias globalmente, conquistando leitores com sua narrativa provocativa e temas pertinentes. O impacto da obra foi tão significativo que a Netflix produziu uma adaptação cinematográfica, dirigida por McG e estrelada por Joey King, que amplificou a visibilidade da história para um público ainda maior.

No universo distópico de “Feios”, a sociedade estabelece padrões de beleza inflexíveis, exigindo que todos passem por cirurgias estéticas aos 16 anos para se tornarem “perfeitos”. Antes disso, os jovens são marginalizados, sonhando com o dia em que suas imperfeições serão corrigidas. Tally Youngblood (Joey King), a protagonista, vive esse dilema de maneira intensa. Conhecida como “Vesguinha” devido aos olhos fora dos padrões, Tally anseia pela transformação que, acredita, trará aceitação e felicidade. Seu vínculo com Peris (Chase Stokes), amigo íntimo e confidente, reforça suas aspirações. No entanto, quando Peris passa pela cirurgia antes dela e não cumpre a promessa de se encontrar, Tally se vê forçada a questionar a própria idealização desse processo.

A trama ganha complexidade com a chegada de Shay (Brianne Tju), uma jovem rebelde que desafia o sistema ao expor as verdadeiras consequências das cirurgias. Além de alterar a aparência, os procedimentos suprimem a individualidade, transformando as pessoas em versões superficiais, submissas e controladas. A jornada de Tally, ao lado de Shay e outros dissidentes, revela as camadas sombrias desse regime, ao mesmo tempo em que critica de forma incisiva a obsessão contemporânea com a perfeição estética.

O filme adapta essas questões de maneira acessível, priorizando um tom leve e convidativo para ressoar com o público jovem. Embora simplifique algumas nuances presentes no livro, a obra cinematográfica mantém a essência crítica ao questionar os padrões de beleza impostos e as pressões sociais para a conformidade. Essa abordagem visa instigar reflexões iniciais, especialmente em espectadores mais jovens, criando um ponto de partida para discussões sobre identidade, autonomia e superficialidade.

A história também aborda o impacto da tecnologia e da biotecnologia como ferramentas de controle social. Não se trata apenas de moldar a aparência física; o sistema desumanizador manipula mentes, eliminando a capacidade de resistência e questionamento. A jornada de Tally evolui para um ato de resistência, em que ela desafia não apenas as autoridades opressoras, mas também enfrenta seus próprios medos e preconceitos.

Sob uma perspectiva pós-moderna, o filme desconstrói a ideia de que a perfeição física é um caminho para a felicidade. Ele evidencia o custo humano de uma sociedade obcecada pela padronização, refletindo sobre como a busca pela perfeição pode corroer a autenticidade das relações humanas e a autopercepção. A trama, ao mesmo tempo que diverte, questiona o papel das instituições que moldam ideais inalcançáveis, incentivando o público a explorar o que significa ser genuinamente humano em um mundo de aparências.

Com sua narrativa instigante e visual envolvente, “Feios” não apenas diverte, mas também levanta questões profundas sobre identidade, liberdade e os limites éticos do avanço tecnológico. Mais do que uma distopia, a obra funciona como um espelho inquietante da sociedade contemporânea, convidando o espectador a questionar o verdadeiro custo da conformidade.