O filme que pode dar um Oscar a Demi Moore em 2025 já chegou ao Mubi Divulgação / Working Title Films

O filme que pode dar um Oscar a Demi Moore em 2025 já chegou ao Mubi

A lei da gravidade não perdoa ninguém, mas para Elisabeth Sparkle, ela representa uma sentença cruel. Durante anos, a ex-estrela de ginástica televisiva sustentou seu legado com suor e carisma, até ser substituída sem cerimônia por uma versão mais jovem e, aos olhos do mercado, mais “adequada”. Harvey, seu chefe caricato e repugnante, sela a demissão com um presente sarcástico: um livro de culinária francesa, uma metáfora insensível de que o tempo dela está irremediavelmente no passado.

Em um cenário onde a juventude é tratada como moeda de valor absoluto, “A Substância” surge como uma obra provocadora. Comparações com “Replace” (2017), “A Pele que Habito” (2011) e “A Morte lhe Cai Bem” (1992) são inevitáveis, mas Coralie Fargeat vai além. Sua direção não recua diante das questões mais desconfortáveis, equilibrando ficção científica com um gore visceral. O filme capta um zeitgeist obcecado por soluções instantâneas e transformações estéticas que prometem milagres, mas escondem consequências brutais.

Elisabeth, interpretada com maestria por Demi Moore, decide arriscar o desconhecido e mergulha nos mistérios da Substância. A promessa? Rejuvenescer, mas com um método complexo: alternar sua existência com uma versão jovem de si mesma a cada sete dias. A dinâmica entre Elisabeth e sua cópia, Sue (vivida por Margaret Qualley), oscila entre a ternura de uma relação maternal e a rivalidade de uma luta pela sobrevivência. A interação entre as duas atrizes é o ponto alto do filme, capturando com destreza a tensão e a interdependência de ambas — uma parasita, a outra hospedeira.

Fargeat transforma a tela em um espetáculo de cores vibrantes e simbolismos perturbadores. O brilho neon esconde, sob sua fachada estilizada, uma podridão iminente. As cenas iniciais, marcadas pela demissão humilhante de Elisabeth, expõem com brutalidade as fissuras de uma sociedade que mastiga e descarta suas figuras públicas como Harvey devora camarões, sem remorso ou elegância.

No entanto, o desejo insaciável por prolongar a juventude cobra seu preço. A trama se complica quando as regras de alternância são quebradas, resultando na monstruosa fusão de Elisabeth e Sue — uma aberração chamada Elisasue. É nesse momento que o filme perde um pouco de sua força inicial. Fargeat, ao prolongar a narrativa com uma sequência de carnificina exagerada, dilui o impacto da crítica que já havia sido magistralmente construída. O final, embora ousado, soa como um adorno desnecessário em uma obra que já dizia o suficiente.

Mesmo com essa extensão questionável, “A Substância” se firma como um comentário mordaz e relevante sobre a busca obsessiva pela perfeição física e a implacável indústria da juventude. Fargeat conduz o espectador por um território onde os limites entre renovação e destruição se confundem, entregando um espetáculo visual e reflexivo, perturbador em sua mensagem e impecável em sua execução — até quase o fim.

Filme: A Substância
Diretor: Coralie Fargeat
Ano: 2024
Gênero: Drama/Ficção Científica/Terror
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★