Robert McCall desapareceu das vistas do mundo, mas não abandonou sua missão. Agora, refugiado em uma pitoresca vila da Sicília, sua aparente calmaria esconde o prelúdio de uma tempestade moral e violenta. “O Protetor: Capítulo Final”, dirigido por Antoine Fuqua, se inicia com uma das sequências mais impactantes do cinema recente, ecoando a brutalidade emocional do segundo filme, em que Susan Plummer, a amiga fiel e antiga colega de McCall, foi cruelmente assassinada durante uma investigação na Bélgica.
Desta vez, Fuqua transporta o icônico vigilante para o sul da Itália, um cenário marcado por sua beleza contrastante e pela escuridão de um esquema de escravização de imigrantes. O diretor, em colaboração com seu ator de confiança, Denzel Washington, eleva a intensidade das ações, entregando um McCall ainda mais complexo e implacável, mas igualmente humano.
Washington encarna McCall com um frescor surpreendente, revelando nuances que o público não esperava. Embora ainda determinado a extirpar a escória do mundo, há um desejo palpável de aproveitar os momentos simples, de respirar além das sombras que o cercam. Mas como conciliar essa dualidade em um mundo que parece cada vez mais entregue ao caos? Se vivêssemos em um lugar onde justiça e responsabilidade fossem regra, personagens como McCall talvez fossem desnecessários. Porém, na realidade onde a criminalidade prolifera, ele se torna uma presença quase inevitável. Seus métodos, indiscutivelmente extremos, levantam a questão: quem pode ignorar o avanço das drogas e da violência sem sentir o peso da omissão?
A narrativa explora essa tensão, oferecendo momentos de ação calculada e reflexões amargas. McCall age com eficiência letal, como quando liquida um grupo de mafiosos com precisão cirúrgica, recuperando de um dos corpos a chave para seus próximos passos. Esse simbolismo ressoa ao longo do filme, mostrando que, embora suas ações possam ser questionáveis, seus objetivos são claros: restabelecer um equilíbrio, mesmo que ao custo de sua própria paz.
O roteiro, assinado por Richard Lindheim, Michael Sloan e Richard Wenk, prioriza a humanidade das relações, em especial a amizade de McCall com Khalid, um jovem marroquino refugiado. Khalid é o espelho da vulnerabilidade, um trabalhador à mercê de um sistema que não lhe garante nada. Sua interação com McCall não é apenas comovente, mas também revela a natureza protetora do protagonista, disposto a lutar por aqueles que não podem. Dakota Fanning retorna como Emma Collins, agora uma mulher forte, cuja conexão com McCall oferece respiros emocionais antes que a trama seja novamente tragada pela intensidade da narrativa.
Fuqua conduz a história com mão firme, mantendo a tensão enquanto introduz uma nova ameaça: uma célula terrorista em Nápoles que trafica uma droga perigosa pela Europa. Embora a estrutura narrativa siga fórmulas conhecidas, a execução é eficaz. O público encontra o que esperava: ação, emoção e a incansável busca por justiça de McCall. É previsível? Talvez. Mas também é irresistivelmente envolvente.
“O Protetor: Capítulo Final” não é apenas o encerramento de uma saga; é uma reflexão sobre as sombras que habitam cada sociedade e sobre o preço que pagamos ao ignorá-las. E McCall, em sua jornada final, não deixa dúvidas: há batalhas que só podem ser travadas por aqueles dispostos a enfrentar o pior, mesmo quando isso significa sacrificar sua própria redenção.
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