Comédia romântica sul-africana é um dos filmes mais assistidos da Netflix na atualidade Divulgação / Netflix

Comédia romântica sul-africana é um dos filmes mais assistidos da Netflix na atualidade

“Felicidade É…” tenta transpor para a tela o espírito de “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade, trazendo para os dias atuais as complexidades das relações humanas, principalmente no que diz respeito ao amor e suas armadilhas. Diferente do poema, em que os personagens eram mais jovens e provincianos, aqui a narrativa se debruça sobre uma protagonista mais madura, cercada pelos dilemas contemporâneos.

O foco está nas mudanças impostas pela passagem do tempo, onde a juventude se alonga artificialmente, mas as angústias permanecem as mesmas. O enredo nos conduz por uma jornada onde o amor continua sendo o elemento central, imutável diante das transformações sociais, culturais e até mesmo tecnológicas. O que permanece, acima de tudo, é a busca por uma felicidade que não se deixa capturar por bens materiais, símbolos de status ou por convenções de sucesso, mas sim por algo mais profundo e autêntico.

A protagonista, Princess, é uma empresária bem-sucedida que, prestes a completar quarenta anos, enfrenta uma crise de identidade. Sua trajetória, marcada por conquistas profissionais, é colocada em xeque pelo simples fato de que o tempo passou, e com ele vêm as incertezas sobre o futuro. O aniversário, que se aproxima em questão de horas, traz à tona suas inseguranças mais íntimas. Apesar de sua amiga Tumi, uma extrovertida e otimista organizadora de eventos, estar preparando uma grande festa para a ocasião, Princess não consegue ver motivo para celebrar. A narrativa constrói, através dessas duas mulheres, um contraponto interessante: Tumi, com sua energia e confiança, não entende as hesitações e fragilidades de Princess, enquanto esta, por sua vez, tenta lidar com a frustração de um casamento fracassado e a sombra de um ex-marido problemático.

A interação entre as duas protagonistas, interpretadas por Renate Stuurman e Gail Mabalane, é o ponto alto da obra. Ambas conseguem dar vida a personagens que, apesar das diferenças, refletem dilemas universais sobre envelhecimento, expectativas sociais e a difícil arte de encontrar sentido na vida adulta. Contudo, o filme peca pelo excesso, ao tentar abordar uma gama de questões em um tempo relativamente curto, o que compromete a profundidade com que esses temas são tratados. As situações cômicas e caóticas vividas por Princess e Tumi, apesar de engraçadas, acabam por desconstruir parte do peso emocional que a trama tenta carregar.

A história se perde um pouco ao querer abraçar temas que poderiam ser explorados com mais calma, tornando a experiência por vezes um tanto superficial. Mesmo assim, há momentos de genuína reflexão, especialmente quando Princess, em meio a suas angústias, comenta que a vida de fato começa aos quarenta, numa espécie de resignação otimista que, apesar de ser um clichê, ressoa com quem já passou por esse marco. Ao final, é difícil não se identificar com ao menos uma das questões levantadas, e esse talvez seja o grande mérito da produção.


Filme: Felicidade É…
Direção: Nthabiseng Mokoena e Naledi Ya Naledi
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Comédia/Romance
Nota: 8/10