Suspense baseado em crime real assustador e chocante está na Netflix Divulgação / Sony Pictures Releasing

Suspense baseado em crime real assustador e chocante está na Netflix

O desafio dos thrillers investigativos reside em encontrar o equilíbrio entre o previsível e o instigante. Embora muitos desse gênero sigam fórmulas conhecidas, conseguem entreter ao oferecer enigmas que, mesmo previsíveis, prendem a atenção do espectador. Contudo, a repetição de clichês pode se tornar um fardo ao revisitar esses filmes anos depois, algo notável no remake de “O Padrasto” de Nelson McCormick, uma nova versão do suspense psicológico dirigido por Joseph Ruben em 1987.

Mesmo com uma direção técnica competente, um roteiro estruturado e um elenco que se entrega ao papel, a magia da obra original se dilui na releitura moderna. A tentativa de resgatar a tensão e a originalidade de uma história que impactou há quase quatro décadas esbarra em um problema crucial: o mundo mudou, e o público, hoje, tem à disposição uma gama de filmes e séries com propostas inovadoras. Enquanto o cinema era uma das poucas opções de entretenimento nos anos 1980, as plataformas de streaming, em 2009, já dominavam a atenção dos espectadores, expondo com clareza como certas narrativas envelhecem mal.

O que no passado parecia engenhoso e provocativo, no remake se torna simplório e pouco convincente. A trama gira em torno de David Harris, um assassino em série interpretado por Dylan Walsh, que, após eliminar sua família, parte para recomeçar com outra. Chegando a Portland, Oregon, Harris encontra Susan Harding, interpretada por Sela Ward, uma mulher recém-divorciada com dois filhos. O desenrolar do relacionamento é marcado por clichês que enfraquecem a narrativa, com o estranho rapidamente se infiltrando na vida de Susan e ganhando sua confiança — e a de seus filhos — em um período absurdamente curto.

A falta de verossimilhança na construção dos personagens é gritante. O roteiro nos pede que aceitemos, sem questionar, o fato de que Susan se deixa envolver por um completo desconhecido a ponto de se casar em menos de seis meses. A relação entre eles carece de substância, sendo superficial e construída em torno de convenções previsíveis. A previsibilidade é tão presente que torna difícil se envolver com o destino dos personagens, com exceção de Michael, o filho mais velho de Susan, vivido por Penn Badgley. Ele é o único que, de forma pouco explicada, desconfia das intenções de Harris desde o início, sustentado por uma intuição vaga, sem base concreta.

Apesar de algumas cenas de confronto entre Harris e Michael conseguirem trazer certa tensão no terceiro ato, elas já chegam tarde demais para resgatar a narrativa do marasmo. A comparação inevitável com o suspense psicológico “A Mão Que Balança o Berço”, de Curtis Hanson, é inevitável, mas o que lá funcionou com maestria em criar uma atmosfera de paranoia crescente, aqui parece uma tentativa rasa de replicar fórmulas que já não surpreendem.

Em última análise, “O Padrasto” versão 2009 se perde em sua incapacidade de inovar, subestimando a capacidade do público moderno de buscar histórias que transcendam o óbvio. A direção cuidadosa e o elenco comprometido não são suficientes para compensar uma história que, revisitada após tantos anos, soa datada e, sobretudo, previsível.


Filme: O Padrasto
Direção: Nelson McCormick
Ano: 2009 
Gêneros: Terror/Suspense 
Nota: 7/10