O caos orquestrado em “Mission: Impossible — Dead Reckoning Part One” é uma combinação magnética de ação descontrolada e humor pontual. O sétimo filme da franquia dirigido por Christopher McQuarrie explora dinâmicas complexas de personagens, onde a atração mútua entre os protagonistas jamais se concretiza. Eles estão cientes de que, embora o desejo e a camaradagem existam, essas emoções são insuficientes para que suas vidas sigam um caminho conjunto, já que representam forças opostas de uma mesma moeda.
A franquia, criada por Bruce Geller e exibida originalmente entre 1966 e 1973, parece destinada a continuar mesmo quando o protagonista inevitavelmente se aposentar. As especulações sobre Glen Powell, de “Top Gun: Maverick” (2022), assumindo o papel de Ethan Hunt no futuro não surgem ao acaso, dado seu desempenho promissor ao lado de Tom Cruise. Contudo, mesmo com essa possível mudança, a transição para um novo herói não será imediata, e o público provavelmente levará tempo para aceitar um “Missão Impossível” sem Cruise.
No roteiro assinado por McQuarrie e Erik Jendresen, Hunt é lançado em uma jornada repleta de dilemas existenciais, visíveis nas expressões faciais que não escondem os sinais de envelhecimento. Os dilemas morais e físicos do protagonista, agora na casa dos sessenta, trazem uma nova camada de profundidade, refletindo o desgaste emocional de um espião que, como Sísifo, está preso em um ciclo eterno de missões cada vez mais difíceis e sem conclusão à vista.
A presença de Eugene Kittridge, interpretado por Henry Czerny, serve como um lembrete da distância crescente entre Hunt e o mundo em que opera. Uma sequência crucial entre eles esclarece os objetivos do governo: caçar um dispositivo de inteligência artificial com capacidade para ativar uma bomba nuclear. Com a chave dividida em duas partes, uma delas prestes a ser negociada no mercado negro, a missão ganha contornos de urgência.
Simon Pegg e Ving Rhames retornam como os leais Benji Dunn e Luther Stickell, garantindo a familiaridade que equilibra a trama com momentos de humor e lealdade. O mesmo não se pode dizer de personagens como Grace, a ladra interpretada por Hayley Atwell, que entra inesperadamente na trama, e Alanna Mitsopolis, vivida por Vanessa Kirby, cuja relação com Hunt permanece ambígua e tensa. Além disso, a presença de Ilsa Faust, interpretada por Rebecca Ferguson, adiciona um toque de nostalgia e desejo não resolvido.
Ao final de suas quase três horas, o filme entrega uma experiência visual arrebatadora, impulsionada por cenas de ação globais que envolvem o espectador. E agora, com o anúncio de “Mission: Impossible — Dead Reckoning Part Two” marcado para maio de 2025, o público já espera ansioso para ver o que pode ser o desfecho final da saga de Ethan Hunt, talvez o último ato de Tom Cruise no papel que marcou sua carreira.
Filme: Mission: Impossible — Dead Reckoning Part One
Direção: Christopher McQuarrie
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 9/10