Embora nunca tenha acompanhado nenhum episódio de “The Last Kingdom”, é notável o sucesso que a série alcançou entre críticos e fãs de épicos históricos. Com cinco temporadas bem-sucedidas, os produtores decidiram finalizar a saga com um filme que, atualmente, lidera como o mais visto na Netflix mundialmente. Para quem, assim como eu, não acompanhou a série, não há motivo para preocupação. “The Last Kingdom: Seven Kings Must Die” pode ser apreciado mesmo por quem não está familiarizado com os eventos anteriores.
De início, a trama parece um emaranhado complexo de reinos, personagens e intrigas. É desafiador, para quem não acompanhou a série, identificar de imediato as alianças e inimizades. Entretanto, à medida que o filme avança, as peças se encaixam, e o espectador é guiado pelas intricadas relações que moldam a história.
A série, e por extensão o filme, são inspirados nas “Crônicas Saxônicas”, uma obra grandiosa de Bernard Cornwell, renomado autor britânico com um fascínio por eventos históricos. O cenário é ambientado entre os séculos 9 e 10, durante o reinado de Alfredo, o Grande, que lutava para repelir as invasões vikings enquanto buscava unificar a Inglaterra. No entanto, a figura central da trama não é Alfredo, mas Uhtred, um personagem baseado em um líder real que governava a fortaleza de Bamburgo.
A escolha de Cornwell por Uhtred como protagonista está enraizada em uma descoberta pessoal do autor. Ao investigar sua ancestralidade, Cornwell descobriu que ele e Uhtred eram parentes distantes, traçando sua linhagem até o século 6. Esse elo genealógico inspirou a criação de Uhtred como um poderoso guerreiro, envolvido em importantes batalhas e tramas políticas que definiram seu tempo, incluindo sua contribuição na vitória contra os escoceses.
Apesar da narrativa se basear em eventos históricos, tanto a série quanto as “Crônicas Saxônicas” de Cornwell misturam realidade com ficção. No filme, a história já se passa bem além dos eventos iniciais da série, explorando as consequências da morte do rei Eduardo, filho de Alfredo. O filme condensa os três últimos livros da saga em um roteiro enxuto, proporcionando uma conclusão à série que não foi possível nas temporadas anteriores.
Logo após a morte de Eduardo, uma disputa violenta pelo trono se inicia entre seus filhos Aelfweard e Aethelstan. Aethelstan, o meio-irmão, assassina Aelfweard, o que dá início a uma série de batalhas pelo controle da coroa. Aethelstan, agora um fanático cristão, se vê manipulado por seu amante e conselheiro religioso, Ingilmundr, e acaba banindo Uhtred, seu antigo aliado, após este se recusar a jurar lealdade. Uhtred, exilado para as Ilhas Britânicas, descobre que o rei dinamarquês Anlaf formou uma poderosa aliança com todos os inimigos de Aethelstan, prometendo derrubá-lo. Uhtred, então, precisa tomar uma decisão crucial sobre onde depositar sua lealdade antes do confronto final.
O ápice do filme, como esperado, é uma grandiosa batalha medieval, coreografada com precisão para capturar a brutalidade e o realismo dos combates da época. A cena é intensa e bem executada, transportando o público para o campo de batalha, onde a tensão pela vitória é palpável. Para os fãs que acompanharam a série desde o início, o momento é catártico, proporcionando um fechamento emocional à história, ainda que, como toda boa saga, deixe margem para futuras continuações.
Embora “The Last Kingdom: Seven Kings Must Die” não ofereça um encerramento definitivo, e talvez isso decepcione alguns, o filme é eficaz em entregar um épico envolvente, repleto de ação e imersão. O espectador é arrastado para o caos de uma era em que a lealdade e a violência eram as principais forças motrizes. O legado de Uhtred, e de sua busca por equilíbrio em meio à guerra, continua a ecoar através das armaduras e espadas da Idade Média, garantindo que essa história ainda ressoe por muito tempo.
Filme: The Last Kingdom: Seven Kings Must Die
Direção: Edward Bazalgette
Ano: 2023
Gênero: História / Drama / Ação
Nota: 9/10