“Ambulância — Um Dia de Crime” figura como uma das produções mais exageradas que o cinema já concebeu. O enredo segue um ex-fuzileiro, veterano do Afeganistão, que enfrenta a dolorosa perspectiva de perder sua esposa para um câncer raro. A única esperança está em um tratamento experimental caríssimo, e essa premissa originou-se em “Ambulância” (2005), dirigido pelo dinamarquês Laurits Munch-Petersen. Com o toque inconfundível de Hollywood, drones e carros de luxo foram adicionados, e nas mãos do diretor Michael Bay, a narrativa foi transformada em uma superprodução de alta adrenalina, sem perder o conflito moral subjacente que permeia a trama.
Juntamente com Lars Andreas Pedersen e Chris Fedak, Munch-Petersen foca nas vidas privadas dos personagens, revelando seus tormentos pessoais. Em meio a sequências de ação intensas, o filme expõe os sofrimentos ocultos de cada figura. O enredo é desencadeado por uma decisão equivocada que coloca dois irmãos, que compartilham um passado marcado por ressentimentos, em um confronto sangrento.
Na versão de 2005, o foco estava em uma mãe que precisava urgentemente de tratamento médico. Já na adaptação americana, é Amy, esposa de Will Sharp, que está à beira da morte. Embora apareça brevemente, Moses Ingram, que interpreta Amy, captura a angústia de Will, um veterano que se vê impotente, sem emprego, observando sua esposa definhar. A personagem representa o sofrimento silencioso e profundo que impulsiona a trama desde o início.
Michael Bay não poupa esforços ao retratar o desespero de Will e Amy em uma cena crucial. O veterano tenta negociar com três supervisoras do plano de saúde, em busca de mais tempo para quitar as dívidas e conseguir o tratamento que a esposa precisa. Ele menciona uma cirurgia experimental, cuja eficácia é incerta, mas que representa sua última esperança. O custo é astronômico: 231 mil dólares, um valor muito além de suas possibilidades. Sem outra alternativa, Will recorre a Danny, seu irmão adotivo, um trambiqueiro que agora comanda uma revenda de carros ilegais.
A partir desse ponto, Yahya Abdul-Mateen II e Jake Gyllenhaal, interpretando Will e Danny respectivamente, passam a formar uma dupla inseparável. Com certa hesitação, Will aceita a proposta de Danny e decide participar do assalto ao banco mais frequentado por milionários de Los Angeles, onde pretendem roubar grandes quantias pertencentes à elite do cinema e do setor financeiro. No entanto, desde o início, fica claro que as chances de o plano dar errado são muito altas.
A primeira complicação ocorre quando uma senhora entra no elevador junto com a quadrilha, quase atrapalhando o cronograma. Já no banco, com todos os reféns sob controle, Zach, um policial interpretado por Jackson White, desconfia de algo. Mesmo com Danny alegando que o banco está fechado devido a uma transferência de um cliente VIP, Zach decide entrar e aproveitar a oportunidade para convidar Kim Daniels, uma caixa com quem flertava há algum tempo, para um encontro.
A narrativa, bem amarrada pelo roteiro de Munch-Petersen, Pedersen e Fedak, leva o enredo a uma virada dramática quando Kim é envolvida em um tiroteio que aciona todos os carros de patrulha da área. Mark, parceiro de Zach, vivido por Cedric Sanders, também chama a SWAT, desencadeando uma perseguição frenética pelas ruas de Los Angeles.
Quando o grupo de assaltantes é abatido por snipers e pela polícia de elite, Danny e Will conseguem escapar para um estacionamento próximo. Cansados e encurralados, eles atacam o motorista de uma ambulância e fogem no veículo, com Zach gravemente ferido a bordo. Will, disfarçado de motorista, e Danny, escondido no veículo, conseguem evitar a revista policial e continuam a fuga, levando também uma paramédica, interpretada por Eiza González.
A personagem de Eiza, Cam Thompson, enfrenta seus próprios dilemas ao longo da trama, o que traz um equilíbrio emocional à história. A performance da atriz é sólida, especialmente nas cenas mais intensas, e seus momentos de tensão e dúvida são um contraponto necessário à ação desenfreada.
A direção de Michael Bay se destaca pelo uso impressionante de tecnologia. As cenas filmadas com drones são um espetáculo à parte, proporcionando uma visão única e dinâmica da perseguição, algo que deve agradar aos fãs de ação. O filme não se furta a explorar a ação exagerada e as acrobacias visuais típicas do cineasta, criando uma experiência cinematográfica que mescla adrenalina com os dilemas pessoais dos personagens.
Enquanto isso, o elenco de apoio, liderado por Garret Dillahunt no papel do capitão Monroe, representa a força policial de forma robusta, com atuações que conferem peso e seriedade ao enredo. A interação entre os personagens, as sequências de ação bem coreografadas e os momentos de alívio cômico estrategicamente posicionados fazem de “Ambulância — Um Dia de Crime” uma experiência intensa e envolvente, que equilibra ação e emoção.
Em resumo, a produção de Michael Bay entrega exatamente o que promete: um filme de ação explosivo, cheio de adrenalina e cenas impactantes, mas que não deixa de lado os conflitos morais e emocionais que dão profundidade ao enredo. O núcleo da história é sustentado pelos personagens bem desenvolvidos e pela direção firme, garantindo que o espectador permaneça cativado até o último minuto.
Filme: Ambulância — Um Dia de Crime
Direção: Michael Bay
Ano: 2022
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10