Filme da Netflix que ficou entre os mais vistos por 6 semanas em 96 países Scott Yamano / Netflix

Filme da Netflix que ficou entre os mais vistos por 6 semanas em 96 países

A caminhada rumo à maturidade é frequentemente acompanhada por um senso de solidão que, para muitos, pode ser avassalador. O filósofo francês Jean Rostand capturou essa ideia ao sugerir que a condição adulta é, essencialmente, uma experiência de isolamento. Contudo, o ser humano desenvolve ao longo do tempo mecanismos para suavizar essa sensação. Alguns encontram refúgio na família, outros na fé ou em prazeres mais imediatos.

Embora esses caminhos possam oferecer alívio temporário, nenhum é completamente eficaz. A dedicação à carreira também surge como uma tentativa de afastar os fantasmas da solidão, mas com o passar dos anos, mesmo essa busca pode se revelar insuficiente. Com a idade, as capacidades que antes pareciam inabaláveis começam a declinar, levando à constatação de que o vigor de outrora não é mais uma constante.

Esse choque com a realidade pode ser devastador, especialmente para aqueles que basearam sua identidade em conquistas efêmeras. Quando a percepção do tempo perdido e das oportunidades desperdiçadas se instala, a única saída possível é a reinvenção.

O esporte oferece uma analogia poderosa para a compreensão da inevitabilidade do declínio humano. Observar atletas em ação, seja em um campo de futebol ou em uma quadra de basquete, é testemunhar a glória momentânea que, no entanto, está sempre sujeita ao crivo do tempo. A performance atlética, por mais brilhante que seja, está inevitavelmente atrelada à passagem dos anos. Não se trata apenas do fim de uma partida ou de uma temporada, mas do fim de uma era pessoal na vida de cada jogador.

Alguns talentos despontam cedo demais, incapazes de entender plenamente as nuances de sua carreira até que o tempo se encarrega de ensinar as lições necessárias. No entanto, a capacidade de aprendizado está intrinsecamente ligada ao ritmo do amadurecimento pessoal, que não pode ser apressado nem retardado além de certo ponto.

O filme “Arremessando Alto” (2022), dirigido por Jeremiah Zagar, explora esses temas ao seguir a trajetória de Stanley Sugarman, um ex-jogador de basquete que, consciente de suas próprias limitações, vê sua carreira como atleta chegar ao fim, forçando-o a redefinir seu papel dentro do esporte.

As “quatro linhas” que delimitam a quadra de basquete, cenário de tantos momentos de glória, tornam-se, neste contexto, um símbolo do confinamento imposto pelo tempo. Sugarman, interpretado por Adam Sandler, é um olheiro experiente, cuja vida foi moldada pelos desafios do basquete profissional, desde as longas viagens e estadias em hotéis até a ausência nos momentos importantes da vida familiar.

Ao receber uma oportunidade para treinar a equipe do Philadelphia 76ers, ele vislumbra a chance de uma nova fase em sua carreira. No entanto, uma reviravolta inesperada, marcada por um acidente que lhe deixa cicatrizes físicas e emocionais, obriga Sugarman a retornar ao circuito de caça-talentos globais, uma tarefa que ele assume com relutância.

Durante uma dessas viagens, Sugarman descobre Bo Cruz, um talentoso jogador em Maiorca, interpretado por Juancho Hernangómez, que ainda não teve a chance de brilhar fora da Espanha. A partir desse ponto, o filme se desenrola, explorando a relação entre Sugarman e Cruz, enquanto este último enfrenta os desafios de adaptação em um novo país e uma nova liga.

O roteiro, escrito por Taylor Materne, leva o espectador por um caminho repleto de obstáculos típicos das narrativas esportivas: a resistência dos jogadores veteranos, o preconceito, e a constante tensão entre tradição e inovação no esporte. O desenrolar da trama, apesar de familiar em muitos aspectos, é elevado pela química entre Sandler e Hernangómez, que conseguem trazer autenticidade e paixão ao filme. É essa sinergia que faz de “Arremessando Alto”, na Netflix, uma das produções esportivas mais marcantes dos últimos anos.


Filme: Arremessando Alto
Direção: Jeremiah Zagar
Ano: 2022
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 9/10