O gênero cinematográfico que explora a interação do ser humano com seu ambiente e as consequências mais extremas desse encontro — como o apocalipse — tornou-se um dos mais recorrentes e previsíveis no cinema global. Diretores de diferentes orientações ideológicas e crenças diversas, ou até mesmo sem crenças definidas, frequentemente mergulham em temas escatológicos, refletindo uma visão pessimista sobre a existência humana. “Vida” é mais um exemplo desse fenômeno, abordando os clichês do gênero e, ao mesmo tempo, caindo em algumas de suas próprias armadilhas.
O diretor chileno-sueco Daniel Espinosa, conhecido por seu trabalho em vários projetos bem-sucedidos, aplica seu conhecimento adquirido ao longo de duas décadas de carreira em “Vida”. Neste filme, Espinosa utiliza elementos comuns do gênero e adiciona um toque pessoal, explorando a ideia de seres autônomos que desafiam a supremacia humana em um cenário repleto de mistérios inexplorados. A trama sugere que os verdadeiros invasores são os humanos e que a vantagem está com as formas de vida que encontramos.
O enredo de “Vida”, coescrito por Espinosa, Paul Wernick e Rhett Reese, gira em torno de seis astronautas de diferentes nacionalidades a bordo da estação espacial internacional denominada Pilgrim 7. A estação parece ser uma metáfora para a jornada dos protagonistas em busca de redenção, como se estivessem pagando pelos pecados da humanidade. A direção de Espinosa e a fotografia sombria de Seamus McGarvey criam uma atmosfera de um grande edifício espelhado, refletindo a imensidão e o vazio do espaço.
No início da narrativa, Rory Adams, interpretado por Ryan Reynolds, é escolhido para sair da estação e coletar amostras do solo de Marte. Após um incidente em que quase é atingido por um pedaço de fuselagem solto — um prenúncio de que algo está prestes a dar errado, segundo os supersticiosos —, Adams retorna com as amostras para Hugh Derry, um biólogo molecular interpretado por Ariyon Bakare. Derry, que é paraplégico e portanto menos sensível às forças gravitacionais, inicia a análise das amostras.
Miranda North, a comandante interpretada por Rebecca Ferguson, observa o processo, embora sua capacidade de intervir seja limitada. David Jordan, vivido por Jake Gyllenhaal, ajusta a temperatura do ambiente de 120 graus abaixo de zero para 20 graus positivos e fornece uma solução de glicose para estimular o crescimento do organismo unicelular encontrado. O organismo, que acaba por se desenvolver, é nomeado Calvin pelos estudantes americanos que venceram um concurso para nomear a nova descoberta.
Embora os atores e personagens não se destaquem particularmente, a habilidade de Espinosa em conduzir o enredo é evidente. A narrativa mantém o público envolvido sem distrações, lembrando a influência de clássicos como “2001 — Uma Odisseia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick. No entanto, a situação rapidamente se deteriora e Calvin, uma criatura que parece uma combinação de uma serpente musculosa e uma orquídea agressiva, assume o controle da estação espacial. Em um desfecho tenso, a tripulação consegue ativar a cápsula de escape e aterrissa em uma praia no Japão. A ausência de uma continuação para “Vida”, na Netflix, levanta questionamentos, mas talvez tenha sido uma escolha acertada, com Calvin sendo possivelmente o único a discordar dessa decisão.
Filme: Vida
Direção: Daniel Espinosa
Ano: 2017
Gêneros: Ficção científica/Terror
Nota: 8/10