Imperdível na Netflix: Ethan Hawke vai salvar seu dia no melhor faroeste que você verá no mês de agosto Divulgação / Blumhouse Productions

Imperdível na Netflix: Ethan Hawke vai salvar seu dia no melhor faroeste que você verá no mês de agosto

Na cena de abertura de “Terra Violenta”, um desconhecido atravessa o deserto mexicano, deparando-se com um sacerdote que pede ajuda desesperadamente. A égua do padre está exausta, incapaz de seguir adiante sob o calor intenso. O viajante desmonta, troca algumas palavras com o clérigo, tentando avaliar a situação, quando o religioso subitamente o ataca, revelando uma pistola e exigindo a entrega do cavalo.

Esta crítica afiada aos falsos pregadores em tempos difíceis permeia a obra de Ti West, um western que combina elementos de Sergio Leone, Don Siegel e Quentin Tarantino, mantendo sua própria visão sobre a vida em uma terra árida, sem lei e quase desprovida de esperança, onde a luta pela sobrevivência é implacável e os mais fortes dominam os fracos, levando a população a viver em um constante estado de medo. O roteiro de West, apesar de partir de um clichê familiar, desenvolve cenas notáveis, impulsionadas pela trilha sonora de Jeff Grace e pela presença de uma coadjuvante carismática que logo ganha a simpatia do público e se torna essencial para o anti-herói.

“Terra Violenta” não se leva muito a sério, o que acaba sendo seu maior trunfo. Após se livrar do impostor, interpretado brilhantemente por Burn Gorman em pequenas, porém marcantes aparições, o enigmático cavaleiro, protagonista do filme, chega a Denton, uma vila no Texas, e encontra um cenário de devastação e brutalidade resultante dos anos pós-Corrida do Ouro, que havia atraído muitos jovens para a Califórnia entre 1848 e 1853.

Embora o roteiro não especifique precisamente o período da trama, explora a história de um homem endurecido por inúmeras batalhas internas, um tema universal que West utiliza para construir a narrativa convincente de que Paul, o cowboy interpretado por Ethan Hawke, possui boas intenções. Sob esse aspecto, o filme encontra similaridades com “Ataque dos Cães” (2022), a adaptação feita por Jane Campion do romance “The Power of the Dog”  (1967), de Thomas Savage, de onde também se extrai a figura do cão como fiel companheiro na jornada insana do homem.

A cadela Abbie, interpretada pela talentosa Jumpy, é a única personagem capaz de compreender verdadeiramente as inquietações de Paul e, quando sai de cena, sua ausência é mais sentida do que a do Marechal vivido por John Travolta, que incorpora o caos e a brutalidade, ou a de Mary-Anne, a sonhadora interpretada por Taissa Farmiga. Essa mistura de realismo brutal e poesia, humor e violência, deixa o espectador com um desejo por mais. Afinal, todos nós, em algum momento, nos deleitamos com o absurdo e o desafio que ele representa.


Filme: Terra Violenta
Direção: Ti West
Ano: 2016
Gêneros: Faroeste/Ação
Nota: 9/10