Suspense arrepiante, considerado o melhor filme indonésio de 2024, acaba de estrear na Netflix Divulgação / Netflix

Suspense arrepiante, considerado o melhor filme indonésio de 2024, acaba de estrear na Netflix

Entre 1967 e 1990, militares indonésios e malaios de Sarauaque, uma região da Malásia na ilha de Bornéu, trabalharam junto com a comunidade local para derrotar as forças comunistas do Exército Popular de Calimantã do Norte, ou Pasukan Rakyat Kalimantan Utara, o Paraku. Ambong, um dos líderes da agremiação, fugiu, e, de acordo com os antigos, vive escondido na selva, como um fantasma. Verdadeira ou não, a história, premissa de onde sai “Fronteira Sombria”, guarda um invencível ponto de contato com a realidade: ainda hoje, o território entre os dois países sofre com uma violência que as autoridades nunca conseguiram estancar. 

O indonésio Edwin fala de um momento doloroso de seu povo contando a jornada de Sanja, a detetive encarregada de averiguar uma série de homicídios tão misteriosos quanto brutais, e então chega aonde queria. O roteiro do diretor, coassinado com Ifan Ismail, explora o acerto de contas de uma anti-heroína com seu passado, buscando alguma paz de espírito depois de um evento que a faz balançar em suas convicções e rodeada de inimigos que não sossegam enquanto não a virem no chão.

Edwin, vencedor do Leopardo de Ouro no Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, de 2021, junta-se a patrícios de carreira mais sólida a exemplo de Timo Tjahjanto no rol de cineastas asiáticos que o Ocidente tem feito gosto em descobrir, mas ao contrário do que se tem em “A Noite nos Persegue” (2018), épico ambientado em Jacarta, na Indonésia, em que se assistem algumas das cenas de violência mais criativas, sangrentas e bem coreografadas do cinema recente, “Fronteira Sombria” prima pela combustão lenta. Sanja vai avançando pela floresta tropical de Sarauaque, densa e de topografia íngreme, habitada durante o século 19 por rajás brancos, com cujo patrocínio ergueu-se o Forte Margherita para deter os piratas, certa do que está fazendo, apesar dos olhares tortos dos colegas homens. 

O diretor entra em assuntos como misoginia e racismo de uma comunidade para a outra com muita sutileza, concentrando o primeiro tópico no comandante do batalhão de Sanja vivido por Nicholas Saputra, e o segundo em Panca, o dono de uma pequena venda perdida na mata, esta uma subtrama que se estende por todo o segundo ato e se projeta no terceiro, quando Edwin prepara uma reviravolta sem muita pirotecnia, mas estimulante. Nessa hora em específico, Putri Marino e Lukman Sardi seguram a audiência sem esforço, malgrado nunca se venha a saber qual dos quais é mais demônio ou mais anjo naquele lugar paradisíaco e amaldiçoado. 


Filme: Fronteira Sombria
Direção: Edwin
Ano: 2024
Gêneros: Suspense/Drama 
Nota: 8/10