Os 10 mandamentos da politicagem

Os 10 mandamentos da politicagem

Escreve as coisas que tem visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer (Apocalipse, Bíblia)

1 — Amarás o adeus, sobre todas as coisas. Fugirás do país, se preciso for. Escaparás dos cercos policiais. Driblarás as devassas fiscais da Receita Federal. Trafegarás elegante, com o nariz empinado, usando o próprio jatinho ou — não custa tentar — um avião requisitado da FAB. Tomarás um delicioso conhaque num café em Paris e rirás da cara de besta do povo que tu abandonaste nesta terra de samba e pandeiro.

2 — Não tomarás o teu santo daime em vão. Mantenha-te concentrado, companheiro. Afasta de ti este cálice. Em contrapartida, aproxima de ti este cale-se. Enfim, evitarás os trocadilhos musicais infames e quaisquer substâncias facilitadoras para o destravamento da tua língua, pois, no teu, no meu, no nosso caso, a verdade não nos libertará, ao contrário, comprometer-nos-á, fomentando ainda mais o trabalho dos cães advogados.

3 — Guardarás os domingos para fazer acórdãos, alianças, tretas, conchavos políticos, churrascos de confraternização à beira da piscina com deputados da causa e prostitutas de luxo. Não roubarás o erário neste teu dia de folga, mesmo que a corrupção seja passiva. Take it easy, baby. Na segunda-feira, nem bem o dia amanheça, voltaremos todos à ativa.

4 — Se é que tu o conheces, honrarás o teu pai, seu fila-da-puta. Manda quem pode, obedece quem não tem um juiz.

5 — Não matarás. Mandarás — isto sim — um assassino de aluguel no teu lugar. Se é teu o filho bastardo a crescer no ventre daquela mulher, manda o miserento para um parto que o parta. Comprimidos nela, irmão! Não tenhas pena; aja, apenas. Resquícios de imunidade parlamentar mais a solidariedade dos nossos comparsas de paletó e gravata colocam-nos acima da lei.

6 — Não adulterarás planilhas e balancetes sem a devida anuência da quadrilha. Não plantarás escutas telefônicas. Não gravarás as reuniões secretas da nossa legião com o recurso malicioso das câmeras escondidas nos xaxins. Não trairás os mano, sob pena de se juntar precocemente ao capeta e à honorável bancada lesa-pátria que nos antecedeu.

7 — Não roubarás sozinho. Façamos uma licitação fraudulenta e todos sairão ganhando. Não te apropriarás das cotas alheias. Tu bem conheces o código de honra dos pulhas parlamentares: ladrão que rouba ladrão perde o mandato em votação. Votação aberta, diga-se de passagem.

8 — Não levantarás fartos testemunhos nas Comissões Parlamentares de Inquérito. Jurarás que nunca colocastes dólares nas cuecas, nas meias, nos pijamas, nas Bahamas. Lembra-te: o mal não é aquilo que entra pela boca (a não ser que seja bala de escopeta), mas sim, o que sai.

9 — Não cometerás adultério com a minha esposa, nem eu com a tua. Respeitarás a hierarquia e os correligionários, seu otário! Envidarás todos os esforços e sacrifícios pelo bem de la nostra famiglia.

10 — Não cobiçarás as propinas alheias. Aguarda a tua vez. Enquanto este povo deseducado e inculto não aprender a votar, sempre haverá tetas para todos nós. Mamenos em paz e que outros senhores nos acompanhem.