O inevitável fim da existência humana, com suas implicações inevitáveis e imprevisíveis, se entrelaça com o acaso de maneira constante e, muitas vezes, cruza nosso caminho de formas inesperadas. No enredo de “Já Estou Com Saudades”, as protagonistas Milly e Jess enfrentam não apenas o término de uma amizade que moldou suas vidas ao longo de três décadas, mas também confrontam a realidade de suas próprias expectativas e sonhos desfeitos.
Catherine Hardwicke nos introduz à vida dessas duas mulheres através da interpretação de Toni Collette e Drew Barrymore. Elas exemplificam a filosofia do carpe diem, vivendo cada momento como se fosse único, sem se perder em trivialidades.
No entanto, à medida que a narrativa avança, Morwenna Banks revela os aspectos menos idealizados de suas vidas, aqueles que permanecem ocultos aos outros e até mesmo a elas mesmas, expondo as camadas de complexidade que sustentam o enredo.
O tempo, com suas promessas e enganos, não assegura nada. Sócrates destacou a fragilidade da velhice ao afirmar que quanto mais envelhecemos, mais percebemos nossa própria ignorância, uma observação sobre como a curiosidade e o desejo de aprender diminuem com a idade, deixando-nos muitas vezes com uma sensação de desilusão em relação à vida.
A luta contínua contra a inevitabilidade da morte é uma constante desde o nascimento, um desafio que ninguém pode superar completamente, não importa o quanto se viva. O mais cínico dos adversários permite que nos apeguemos a ilusões de felicidade, mesmo sabendo que a verdadeira satisfação é uma busca insustentável, já que a vida é, como na alegoria da caverna de Platão, apenas uma projeção das nossas próprias percepções e ilusões.
O cenário londrino se torna o pano de fundo perfeito para a jornada de Milly e Jess, duas mulheres cujas vidas são tão diferentes quanto seus destinos são entrelaçados. Milly, uma figura marcante nas relações públicas, e Jess, uma mulher sem uma carreira definida, que sonha apenas em formar uma família com seu marido Jago, interpretado por Paddy Considine.
Os personagens masculinos, embora desempenhem papéis secundários, são essenciais para entender o contexto das protagonistas, com Considine oferecendo uma performance mais robusta em comparação com Dominic Cooper, que interpreta Kit, o marido egoísta e insensível de Milly.
O roteiro de Banks, que remete à Jane Austen e sua obra “Razão e Sensibilidade”, explora as complexidades das protagonistas, revelando a constante ameaça de ruptura em sua amizade. O câncer de mama de Milly, que leva a uma mastectomia dupla, introduz uma nova camada de desafio.
Neste momento, o filme se assemelha a uma versão feminina de “50/50” (2011), dirigido por Jonathan Levine, mas Hardwicke aborda o tema com uma perspectiva própria. Ela retrata a transformação de Milly, que, ao invés de envelhecer com resignação, encontra sabedoria e profundidade em sua experiência. Este é o núcleo da mensagem de “Já Estou Com Saudades”: a capacidade de encontrar significado e crescimento mesmo nas adversidades mais dolorosas.
Filme: Já Estou Com Saudades
Direção: Catherine Hardwicke
Ano: 2015
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10