O melhor filme argentino de 2024 está na Netflix e você não assistiu Divulgação / Netflix

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Marcos Carnevale explora de forma autêntica a vida dos neurodivergentes. Em “Anita” (2009), ele apresenta a trajetória de uma jovem com síndrome de Down que, após se separar da mãe, depende da ajuda de desconhecidos. Carnevale celebra a autonomia das pessoas com limitações cognitivas e, em “Goyo”, continua essa abordagem. Desta vez, o protagonista é um homem atraente, sofisticado e culto, que poderia ter uma carreira brilhante em qualquer área, não fosse a Síndrome de Asperger, um transtorno do espectro autista que compromete severamente suas habilidades sociais e comunicativas.

O roteiro de Carnevale, repleto de sutilezas, destaca que Gregório, um guia de museu que conhece todos os detalhes das obras que apresenta, mas não sabe lidar com emoções como o amor por uma colega, é igualmente responsável por suas escolhas, boas ou más. Isso ocorre apesar da superproteção de Saula, sua irmã mais velha interpretada por Soledad Villamil, e da rejeição materna que permeia sua vida. O diretor-roteirista examina profundamente essas questões até descobrir a peça que falta para resolver o enigma que assombra Goyo. Ele merece ser feliz não por ter sofrido, mas por buscar incansavelmente a felicidade.

É indiscutível que o ambiente em que viveram os grandes gênios influenciou profundamente suas obras. Escritores, atores, pintores, filósofos e cineastas são moldados pelas dificuldades da vida: problemas financeiros, famílias numerosas, rupturas, mortes trágicas e o descrédito geral. Essas adversidades afetam intensamente aqueles que pensam e sentem de maneira mais profunda que os outros. Ernest Hemingway (1899-1961), durante seu exílio em Cuba, entregou-se a um estilo de vida preguiçoso, passando os dias tomando sol e conversando com pescadores. Essas experiências teriam se perdido com ele, não fosse a insistência de seu editor.

Foi assim que “O Velho e o Mar” surgiu, reafirmando Hemingway como um dos grandes literatos do século 20. Vincent Van Gogh (1853-1890) pode ser visto como o Hemingway das artes plásticas, e Goyo, seu alter ego contemporâneo. É através de sua habilidade para a pintura que o protagonista, interpretado com intensidade por Nicolás Furtado, encontra seu lugar no mundo. A certa altura, parece que o reconhecimento como artista é o que ele precisa para se sentir completo, mais do que os amores de Eva Montero, uma mulher mais velha e mãe de dois filhos, e de Magdalena, sua mãe que retorna para complicar ainda mais sua vida. Carnevale sugere que essa é a grande revelação que falta em “Goyo”, mas a falha do filme é não explicitar completamente essa iluminação dentro do contexto das vidas reais e suas muitas barreiras.


Filme: Goyo
Direção: Marcos Carnevale
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Romance 
Nota: 8/10