Lançado um ano antes de sua prequela “Pearl”, “X: A Marca da Morte” apresenta uma narrativa independente que pode ser compreendida sem a necessidade de assistir ao outro filme. No entanto, “Pearl” oferece um olhar mais profundo sobre a personagem-título e suas motivações. Ambientado em 1918, durante o tumulto da Primeira Guerra Mundial e a pandemia da Gripe Espanhola, “Pearl” segue a vida de uma jovem que vive em uma fazenda no Texas. Pearl (Mia Goth) está presa em um casamento vazio, com seu marido Howard (Alistair Sewell) ausente, lutando na guerra na Europa.
Pearl vive sob o domínio de sua mãe rígida e amargurada, Ruth (Tandi Wright), enquanto cuida de seu pai catatônico, interpretado por Matthew Sunderland. A atmosfera é opressiva, com a mãe impondo regras severas e a pandemia aumentando o isolamento e o medo. Este cenário alimenta a insatisfação de Pearl, que sente uma raiva crescente em relação às pessoas ao seu redor, culpando-as por sua vida monótona e sem propósito.
Com sonhos de se tornar uma estrela, Pearl inicia um romance secreto com o projecionista do cinema local (David Corenswet), que a introduz ao mundo dos filmes pornográficos e promete levá-la à Europa. Embora suas promessas pareçam vazias, Pearl vê nele uma possível rota de escape. Quando um concurso de dança é anunciado na igreja local, ela se agarra à esperança de que vencer será sua chance de escapar da fazenda e iniciar uma nova vida.
O filme de Ti West é repleto de referências a “O Mágico de Oz”. Pearl, como Dorothy, deseja fugir de sua realidade, mas ao contrário de Dorothy que quer voltar para casa, Pearl anseia por uma vida de glamour. West inclui uma cena erótica entre Pearl e um espantalho, e a paleta de cores vibrantes — vermelho, amarelo e azul — junto com a iluminação artificial e transições de cena, evocam a estética dos clássicos do cinema. Enquanto Dorothy tem Totó, Pearl tem um crocodilo assassino, simbolizando a distorção de seus desejos e realidade.
A escolha de Mia Goth como Pearl é fundamental para o impacto do filme. Sua capacidade de alternar entre expressões angelicais e diabólicas com naturalidade enriquece a personagem, criando uma figura complexa e perturbadora. Goth conduz a trama com uma atuação que captura a essência de Pearl, navegando entre doçura, raiva e tristeza de maneira convincente e cativante.
Pearl acredita que algo está profundamente errado com ela, mas não consegue identificar exatamente o quê. Sua raiva e frustração se transformam em uma violência latente, que culmina em atos extremos. A conexão emocional com o público é intensificada pela vulnerabilidade de Pearl e seus esforços desesperados para escapar de sua vida aprisionada.
Ti West utiliza uma estética visual que homenageia os clássicos do cinema, criando uma atmosfera que é simultaneamente nostálgica e inovadora. As cores saturadas, iluminação arificial e o estilo de filmagem evocam uma sensação de irrealidade, refletindo os devaneios de Pearl. A combinação de elementos visuais tradicionais com um enredo sombrio e distorcido oferece uma experiência cinematográfica rica e imersiva.
“Pearl”, no Prime Video, e “X: A Marca da Morte” se destacam no gênero de horror por sua profundidade psicológica e estética cuidadosamente elaborada. A jornada de Pearl, interpretada magistralmente por Mia Goth, é um estudo de caráter fascinante que explora temas de isolamento, frustração e desejo. A visão de Ti West, que combina referências clássicas com uma narrativa perturbadora, resulta em filmes que são tanto homenagens quanto inovadores dentro do gênero.
Filme: Pearl
Direção: Ti West
Ano: 2022
Gênero: Drama/Terror/Suspense
Nota: 10