É frequente que roteiristas e diretores de cinema explorem a ilusão da eterna juventude, abordando-a sob diferentes perspectivas, independentemente da época. No caso de “Esposa de Mentirinha”, Dennis Dugan revisita a persistente imaturidade dos homens — uma característica menos evidente com o tempo, mas ainda inabalável — para discutir temas como amor, casamentos de conveniência, sexo, solidão, amizade entre mulheres e sucesso. Este filme é inspirado na peça “Fleur de Cactus” (1964), de Pierre Barillet e Jean-Pierre Gredy, que foi adaptada para o cinema em “Flor de Cacto” (1969) por I.A.L. Diamond e dirigida por Gene Saks, estrelando Walter Matthau, Ingrid Bergman e Goldie Hawn. Este é, talvez, seu maior desafio.
O texto é tão frouxo que é difícil determinar onde o filme de Dugan realmente começa. Sob a direção de Allan Loeb e Timothy Dowling, o roteiro consegue utilizar tópicos contemporâneos para tornar “Esposa de Mentirinha” relevante. Recuando 35 anos, Veruca, uma jovem como tantas outras, se isola com as amigas minutos antes do casamento. Em 1988, era comum garotas casarem por conveniência em Long Island ou Cercadinho, e Veruca, personagem de Jackie Sandler, exagera.
Esta é a melhor sequência do filme, onde Dugan, conhecido por comédias como “Gente Grande” (2010) e “Eu os Declaro Marido e… Larry!” (2007), e o elenco estão mais à vontade. Aqui, o roteiro de Loeb e Dowling começa a fazer sentido, revelando sua essência cômica em cenas ridiculamente divertidas, típicas do gênero. A partir deste ponto, o enredo toma forma, com Adam Sandler interpretando Danny Maccabee, um noivo traumatizado por Veruca, usando uma prótese nasal descomunal. Existem muitas maneiras de Sandler e Dugan transmitirem sua mensagem, mas a repetição das velhas piadas anatômicas e do estereótipo do bom rapaz traído cansa. A solução é ter paciência e aguardar o segundo ato.
A trama avança 25 anos, mostrando Danny que aprendeu valiosas lições. Ele troca a carreira de cardiologista pela de cirurgião plástico, submetendo-se a uma rinoplastia severa, o que lhe abre portas no mundo romântico — o filme, intencionalmente ou não, está cheio de clichês e simplificações.
Dugan distorce essa impressão com diálogos que, ocasionalmente, evitam as piadas fáceis e elaboram o discurso sobre a suposta preferência de algumas mulheres por homens frágeis, antes de retornar às brincadeiras constrangedoras. Palmer Dodge, interpretada por Brooklyn Decker, consegue abrandar o comportamento galanteador de Danny, mas não prevê uma rival forte, sem sequer ter conhecimento disso.
O plano de Danny e sua assistente Katherine Murphy, interpretada por Jennifer Aniston, para manter Palmer por perto, inclui momentos genuinamente cômicos. A química entre Aniston e Sandler é o ponto forte do filme. Sequências absurdas, como a excursão a uma reserva florestal com os filhos de Katherine, Maggie e Michael, interpretados por Bailee Madison e Griffin Gluck, tornam-se surpreendentemente leves com Aniston em cena.
A participação de Nicole Kidman como Devlin, um antigo desafeto de Katherine, ao lado de seu marido Ian, interpretado por Dave Matthews, revitaliza a narrativa. A competição de dança havaiana em que os quatro se envolvem recoloca o filme nos trilhos, mas o desfecho previsível diminui o impacto de “Esposa de Mentirinha”, na Netflix, apesar da fotografia de Theo van de Sande manter o interesse até o final.
Filme: Esposa de Mentirinha
Direção: Dennis Dugan
Ano: 2011
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 7/10