O filme mais caro da Netflix em 2024 é atualmente o mais assistido em 120 países Divulgação / Netflix

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Os sistemas de inteligência artificial não possuem a essência da vida. Essas ferramentas criadas pelo homem apenas imitam o conceito de vida e morte, o que serve como ponto de partida para “Atlas”. A narrativa gira em torno de uma cientista profundamente envolvida em experimentos robóticos e projetos destinados a descobrir formas de vida e ambientes favoráveis à colonização extraterrestre. Embora o filme de Brad Peyton remeta a temas cinematográficos já conhecidos nas últimas quatro décadas, ele consegue estabelecer uma identidade própria.

Peyton se inspira em “O Exterminador do Futuro” (1984), um clássico distópico onde um organismo cibernético viaja no tempo para eliminar um possível salvador da humanidade. Esse cenário serve de base para a história de Smith e Harlan, dois cérebros eletrônicos com funções opostas, e a heroína que dá nome ao filme.

Jennifer Lopez interpreta uma pesquisadora dividida entre a sua busca implacável por um grande projeto de carreira e a constatação de que se tornou prisioneira do próprio monstro que ajudou a criar. Os roteiristas Aron Eli Coleite e Leo Sardarian reforçam a alusão ao trabalho de James Cameron, conterrâneo de Peyton, ao mostrar máquinas que, moldadas por concepções humanas, adotam posturas éticas ou abomináveis conforme a conveniência, talvez o aprendizado mais próximo do orgânico que possam absorver.

Como era de se esperar, a inteligência artificial se torna uma ameaça para a humanidade e, seguindo as tendências atuais, não demorará para que aparelhos, softwares e robôs, antes competidores silenciosos, se transformem em adversários desleais e inatingíveis, com planos sombrios de subjugação de seus criadores e uma crueldade humana, emulando os mais de 140 mil anos de violência da nossa espécie, alimentada pela ambição desmedida, fome de poder e ódio.

No mundo cada vez mais imediatista dos dispositivos móveis que inventamos para gerenciar nossas responsabilidades, 28 anos podem representar a diferença entre a Era Mesozoica e os carros voadores que nunca saíram do papel ou da mente dos sonhadores da geração Y — ou xennials, a zona cinzenta entre a geração X e os disputados millennials, dependendo da fonte —, que não imaginavam como seria viver em um mundo hiperconectado.

Coleite e Sardarian usam um vilão humano para que o público não se surpreenda com o que vem a seguir. Casca Decius, o gângster interplanetário interpretado por Abraham Popoola, é quem inflama a sede de poder de Harlan, com Simu Liu se mostrando bastante convincente no papel de uma criatura diabólica — embora só tenha essa noção pela perspectiva dos homo sapiens sapiens — empenhada em destruir a vida como a conhecemos. O diretor enfatiza a verdadeira guerra declarada por essa estranha forma de vida, os tecno sapiens, ao mesmo tempo que desenvolve a amizade crescente entre Atlas Shepherd e Smith, assim chamado em homenagem a “Matrix” (1999-2021), a franquia das irmãs Wachowski.

Assim como em “A Mãe” (2023), outra distopia dirigida por Niki Caro, Lopez interpreta alguém que renuncia a prazeres banais, como preparar o café da manhã, em nome de sua obsessão por dominar o universo, e acaba pagando o preço. Em “Atlas”, Smith, dublado por Gregory James Cohan, é o robozinho amigável, um esforço inútil para se contrapor a tramas maduras como “Ex_Machina — Instinto Artificial” (2015), de Alex Garland, que destacam os grandes perigos por trás dessas facilidades que o homem cria para saciar necessidades menos óbvias.


Filme: Atlas
Direção: Brad Peyton
Ano: 2024
Gêneros: Ficção científica/Drama/Ação
Nota: 7/10