O filme que fez as pessoas segurarem as lágrimas sem sucesso nas salas de cinemas finalmente chega à Netflix Divulgação / Mubi

O filme que fez as pessoas segurarem as lágrimas sem sucesso nas salas de cinemas finalmente chega à Netflix

Poucos cineastas conseguem expor com tanta precisão a complexidade e a dureza das relações humanas como Lukas Dhont. Em “Girl” (2022), inspirado na vida da bailarina Nora Monsecour, o diretor belga aborda um tema delicado com uma franqueza rara, desencadeando debates intensos e suscitando emoções fortes. Em “Close”, Dhont segue uma linha semelhante, mas com uma abordagem ainda mais sutil, intensificando o impacto emocional através da exploração da ignorância e da insensibilidade nas interações humanas.

O roteiro, co-escrito por Dhont e Angelo Tijssens, seu colaborador frequente, é meticulosamente elaborado para que o desenlace da história não surpreenda, mas mantenha uma sensação constante de que algo perturbador está prestes a acontecer. A fotografia de Frank van den Eeden, com seu uso criterioso da luz natural, reforça o desconforto ao expor as nuances mais sombrias do espírito humano, algo que qualquer pessoa introspectiva pode reconhecer em si mesma.

A ligação entre Léo e Rémi transcende o ordinário. Crescidos numa comunidade agrícola na Bélgica, os dois compartilham uma proximidade desde a infância, criando situações de ambiguidade que Dhont explora cuidadosamente. Em uma das sequências mais visualmente impactantes, os garotos correm por um campo de flores ao amanhecer, sugerindo uma profundidade emocional que se torna o eixo central da narrativa.

O filme provoca diferentes reações: alguns espectadores acham inconcebível que os pais dos meninos não intervenham ou até incentivem essa intimidade, enquanto outros veem na história uma representação crua e intensa do despertar de sentimentos e da descoberta pessoal, sempre acompanhados por conflitos e transformações dolorosas. No segundo ato, a trama se intensifica quando um dos meninos percebe como são vistos pelos colegas na nova escola, desencadeando uma crise interior.

Léo, em resposta, decide se afastar, abandonando os momentos que compartilhava com Rémi, como ouvir seus solos de clarinete e passear pelos campos floridos. Eden Dambrine dá vida à transformação de Léo com uma profundidade impressionante, capturando a essência de um garoto que anseia por conformidade, mas enfrenta a dolorosa realidade de sua diferença. Gustav de Waele, interpretando Rémi, transmite gradualmente a crescente angústia de seu personagem, até que o público começa a temer um desfecho trágico.

No clímax da narrativa, Dhont reúne Léo e Sophie, a mãe de Rémi, em uma cena carregada de tensão emocional. Interpretada com maestria por Émilie Dequenne, Sophie traz uma combinação de força e delicadeza à tela. Em vez de optar por uma conclusão sombria, “Close” surpreende ao escolher um caminho de suavidade, encerrando a história de forma tocante e ponderada.


Filme: Close
Direção: Lukas Dhont
Ano: 2022
Gênero: Drama/Coming-of-age
Nota: 9/10