Novo filme de Jennifer Lopez promete ser a maior audiência da Netflix em 2024 Divulgação / Netflix

Novo filme de Jennifer Lopez promete ser a maior audiência da Netflix em 2024

Dispositivos de inteligência artificial não sabem o que é vida. Essas ferramentas, criadas pela mão do homem, apenas emulam a ideia de vida (e de morte) e é por aí que “Atlas” começa a se mover. A história da relação um tanto edulcorada de uma cientista obcecada por experimentos com robôs e programas idealizados para descobrir formas de vidas e habitats favoráveis à colonização extraterrestre, lembra muito do que se já viu no cinema nas últimas quatro décadas, ainda que o filme de Brad Peyton tenha, sim, personalidade. 

O diretor inspira-se em “O Exterminador do Futuro” (1984), a joia das distopias onde um organismo cibernético viaja no tempo a fim de dar cabo de um possível salvador da combalida humanidade, para colocar a história de Smith e Harlan, dois cérebros eletrônicos com funções contrárias, e a heroína que empresta o nome ao filme. Jennifer Lopez incorpora a ambivalência de uma pesquisadora determinada a tudo para levar adiante o grande projeto de sua carreira e a mulher que se flagra presa do monstro que ajudou a embalar. Os roteiristas Aron Eli Coleite e Leo Sardarian reforçam a alusão ao trabalho de James Cameron, canadense como Peyton, na medida em que máquinas, sempre espalhando-se nas humanas concepções, assumem posturas éticas ou abomináveis ao sabor das conveniências, talvez o aprendizado mais orgânico que possam absorver.

A inteligência artificial, como se poderia imaginar, vem se tornando uma ameaça à humanidade e, em tudo seguindo como nas presentes condições, há de ser para breve o tempo em que, de concorrentes rancorosos e mudos, aparelhos, softwares, robôs, dispositivos de toda ordem passarão a adversários desleais, inatingíveis em seus planos macabros de subjugação de seus criadores e humanamente cruéis, emulando os mais de 140 mil anos de truculência de nossa espécie, fervida e refervida nos caldeirões da ambição, da fome de poder a todo custo e do ódio que puderam absorver da convivência conosco. 

No mundo cada vez mais imediatista dos dispositivos móveis que inventamos para cuidar das nossas obrigações, 28 anos podem ser a diferença entre a Era Mesozoica e os carros voadores que nunca saíram do papel ou da mente delirante da sonhadora geração Y — ou xennial, zona cinzenta entre a geração X e os disputados millennials, a depender da fonte —, que não faziam ideia de como seria viver num mundo hiperconectado.

Coleite e Sardarian usam um vilão de carne e osso para que a audiência não estranhe o que virá depois. Casca Decius, o gângster interplanetário de Abraham Popoola, é quem galvaniza a sanha de poder de Harlan, com Simu Liu muito persuasivo na pele de uma criatura diabólica — malgrado só tenha disso a noção que os homo sapiens sapiens permitem — empenhada na destruição da vida como se aprendeu a concebê-la. O diretor dá enfase à verdadeira guerra declarada por essa estranha forma de vida, os tecno sapiens, ao passo que investe na amizade cada vez mais estreita de Atlas Shepherd e Smith, assim batizado em homenagem a “Matrix” (1999-2021), a franquia de Lana e Lilly Wachowski. 

Como em “A Mãe” (2023), o outro gênero de distopia assinado por Niki Caro, Lopez é alguém que renuncia a prazeres banais, como preparar o café da manhã, em nome de sua própria obsessão quanto a dominar o universo, e não se sai nada bem. Em “Atlas”, Smith, dublado por Gregory James Cohan, é o robozinho camarada, esforço vão de se opor a tramas maduras como “Ex_Machina — Instinto Artificial” (2015), de Alex Garland, que apontam os grandes perigos por trás dessas facilidades que o homem cria para saciar urgências bem menos óbvias.


Filme: Atlas
Direção: Brad Peyton
Ano: 2024
Gêneros: Ficção científica/Drama/Ação
Nota: 7/10