O humor que nunca vai subestimar sua inteligência, uma das melhores comédias de todos os tempos está no Prime Video Divulgação / Jack Rollins & Charles H. Joffe Productions

O humor que nunca vai subestimar sua inteligência, uma das melhores comédias de todos os tempos está no Prime Video

“Bananas” é de uma época em que as comédias de Woody Allen eram muito mais brincalhonas e leves. O humor desastrado e pastelão encontrava em pequenos desajustes do cotidiano sua inspiração. O filme, lançado em 1971, dirigido por Allen e coescrito com Mickey Rose, começa com o jornalista Howard Cosell cobrindo ao vivo a derrubada do presidente da fictícia República de San Marcos, em algum lugar da América Central. A câmera flagra o momento em que ele é assassinado pelos militares na escadaria do palácio presidencial. Cosell atravessa a multidão em polvorosa que cerca o corpo do chefe de estado para lhe arrancar, no microfone, suas últimas palavras. Uma espetacularização do absurdo, como o jornalismo é comumente visto.

Os militares são liderados pelo general Emilio M. Vargas, que se consagra o novo presidente de San Marcos. Embora a cena do assassinato seja violenta, não há sangue escorrendo, porque Allen não deseja manter a atmosfera leve. Corta para Nova York. Fielding Mellish (Woody Allen) é um homem comum, que não fez faculdade, e agora ganha a vida como testador de produtos. Ele é desajeitado e um pouco idiota. Uma cena peculiar o mostra no metrô tentando escapar de uma dupla de criminosos. Sylvester Stallone, que sequer foi creditado, é um dos meliantes. Curiosamente, a cena não é nenhuma participação do astro de Rocky. Ele foi contratado como figurante, porque, à época, ele realmente era apenas um desconhecido.

Quando a estudante universitária esquerdista, Nancy (Louise Lasser), bate na porta do apartamento de Mellish para lhe pedir uma assinatura para que os Estados Unidos apoiem os rebeldes que querem derrubar o novo governo militar em San Marcos, ele prontamente atende ao pedido. Não que Mellish esteja interessado na política latino-americana. Pelo contrário, seu interesse se resume em Nancy, por quem se sente imediatamente atraído. Depois de uma conversa estranha de uns cinco minutos, eles conseguem agendar um encontro, entre uma reunião do grupo feminista e um ato de bombardear escritórios de Nancy, uma ativista ocupada. O romance começa a engatar e Mellish rapidamente se apaixona por Nancy. Entre encontros e passeios, eles combinam uma viagem para San Marcos para alguns atos políticos. Tudo parece bem, até que Nancy decide terminar o namoro, porque “falta algo” em Mellish. Ela não sabe dizer muito bem o que é, mas pela justificativa, o fato de ele não ser muito inteligente e nem muito engraçado não são as principais preocupações. É algo além disso.

Apaixonado, Mellish decide realizar a viagem que havia combinado com Nancy para San Marcos. Ele pretende mostrá-la que é digno de seus sentimentos. Ao saber que um americano pousou no país, o General Vargas convida Mellish para jantar. Claro, Mellish recebe o convite com surpresa. A cena é toda hilária e descobrimos que os militares têm planos de se disfarçar de rebeldes para matar Mellish e, com isso, conquistar apoio do governo dos Estados Unidos para combater os comunistas.

Tudo dá errado e Mellish acaba salvo pelos rebeldes e o recrutam para seu grupo de resistência. Depois de participar de guerrilhas ao lado dos comunistas ao longo de oito meses, eles derrotam Vargas e elegem Mellish o novo presidente de San Marcos. No entanto, o país está com poucos recursos e precisa da ajuda financeira dos americanos. Então, Mellish precisa retornar para casa para negociar com o governo americano.

Allen é seu papel de sempre: um homem neurótico, sombrio e covarde, que tem um discurso pusilânime tão bem formatado que acaba convencendo os outros de que ele é inteligente e corajoso, mesmo que não seja. O filme, claro, tem influências do momento político, já que ditaduras militares se espalhavam à época pela América Latina. Mas Allen torna tudo muito sutil e elegante, nunca atravessando linhas polêmicas demais.


Filme: Bananas
Direção: Woody Allen
Ano: 1971
Gênero: Comédia
Nota: 10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.