Você vai rir, filme na Netflix vai deixar seu cérebro mais leve Divulgação / Universal Studios

Você vai rir, filme na Netflix vai deixar seu cérebro mais leve

Para um apresentador de televisão, deve ser a glória sair da ingrata faixa do meio-dia, em que o público do mundo inteiro apenas deita os olhos sobre o aparelho num relance enquanto almoça, arruma os filhos para o colégio ou descansa num almoxarifado um tanto clandestino enquanto a segunda rodada do expediente não começa, para o cobiçado horário nobre, momento em que camadas as mais heterogêneas de espectadores concentram-se em frente à caixa de exóticos sortilégios em busca de certo alívio para seus achaques pós-modernos.

Dono de um carisma arrebatador, Roscoe Jenkins, o R.J., consegue tal façanha, e, prova cabal da sabedoria popular, ao passo que sua vida segue em ouro sobre azul pelo lado profissional, há aspectos de sua intimidade que, ou ele ajusta, ou vai ter de servir chá para seus fantasmas com regularidade cada vez maior. R.J., o mocinho sui generis de Martin Lawrence em “O Bom Filho à Casa Torna”, está numa curva da estrada em que surpresas boas e más aguardam-no, por mais que ele, um metódico incorrigível, queira manter controle sobre tudo. Numa história declaradamente abilolada, Malcolm D. Lee, o diretor-roteirista, encontra as brechas para esmiuçar assuntos de incômoda e urgente seriedade, socorrendo-se do talento de seu protagonista, o mestre de cerimônias de um espetáculo feito de boas atuações em cenas agridoces. 

O mistério por trás de um filme tão pródigo em clichês é precisamente o bom elenco de coadjuvantes, afiado, que não deixa que nenhuma das milhares de piadas se extravie. Já na abertura, quando R.J. fala ao telefone com a mãe, a Mama Jenkins de Margaret Avery, confirma que estará na celebração pelas bodas de ouro dos pais e chega à casa deles ao cabo do voo de primeira classe (e cheio de contratempos) entre Los Angeles e o Arizona, no sudoeste americano, quem assiste tem uma noção cristalina de que todos ali se amam, embora persista em cada um a luta por autoafirmação que afrouxa os laços em alguma medida.

O desapontamento do apresentador ao perguntar sobre a TV de plasma de tela plana que mandara pelo correio e saber que o pai prefere continuar assistindo ao futebol pela pré-histórica GE de monitor de tubo que adquirira pouco depois de subir ao altar com Mama Jenkins serve de prólogo a uma vasta elucubração acerca dos obstáculos que teimam em atravancar o afeto entre o pai e os filhos homens, e a parceria de Lawrence e James Earl Jones como Papa Jenkins diverte e comove.

A tal festa pelos cinquenta anos do casal leva quase todo o filme para acontecer, mas ninguém se queixa. Enquanto isso, a audiência desfruta da comédia despretensiosa e até grosseira elaborada com zelo por humoristas do gabarito de Mo’Nique e Cedric the Entertainer — e, claro, não é nenhuma coincidência que atores pretos ganhem justo destaque num enredo que qualquer um, a despeito de raça, cor ou sangue, sabe de cor. E emociona de todo modo. 


Filme: O Bom Filho à Casa Torna 
Direção: Malcolm D. Lee 
Ano: 2008 
Gêneros: Comédia/Drama 
Nota: 8/10