Você não viu, mas deveria: o filme da Netflix para maiores de 18 anos que é melhor do que John Wick Divulgação / Eighty Two Films

Você não viu, mas deveria: o filme da Netflix para maiores de 18 anos que é melhor do que John Wick

Indivíduos ordinários são postos à prova em circunstâncias que exigem deles um distanciamento considerável. Eles se esforçam para garantir que tudo transcorra conforme planejado, de modo que, ao se depararem com uma reviravolta significativa do destino, apesar da possibilidade de um retorno ao estado original em breve, eles permanecem fiéis a si mesmos e tendem a optar pela prudência, o que pode ser, em certos momentos, uma verdadeira armadilha. O filme “Anônimo” desmonta as certezas de um homem até então exemplar com uma única investida, ampliando a tensão, porém sem abandonar sua técnica. 

O filme dirigido por Ilya Naishuller expõe a instabilidade do personagem principal através de sequências que revelam uma face até então desconhecida, manifestando uma racionalidade precisa no momento em que deveria convocar seus demônios internos, marcando assim seu ingresso num estilo de vida que ele não mais celebra, uma solução definitiva para o conflito sério que precisa solucionar. A atuação de Bob Odenkirk, essencialmente sem falhas, constitui um dos grandes atrativos de “Anônimo”. O roteiro de Derek Kolstad revela a habilidade do ator de transcender o humor e a comédia. No papel, Odenkirk oscila habilmente entre o humor e a tragédia, lembrando Liam Neeson em seus papéis de anti-heróis cativantes, combatendo sua natureza para sobreviver, mas com uma discrição que é determinante. 

Hutch Mansell é um homem de rotina constante e satisfação com seu estilo de vida. A narrativa começa por nos apresentar a rotina mundana de Hutch, que todas as manhãs se senta à mesa para o café com sua esposa, Becca, e seus dois filhos, Brady e Sammy, interpretados por Gage Munroe e Paisley Cadorath, respectivamente. Ele se veste sempre com suéteres escuros, mostra seu cartão de trânsito, observa a calmaria urbana e corre atrás do caminhão de lixo que nunca o espera.

Naishuller indica problemas no casamento e dá espaço para Connie Nielsen desenvolver a personagem de Becca e sua insatisfação, mas foca principalmente na ação que impulsiona a trama, ainda no primeiro ato. Um casal de ladrões latinos irrompe na residência dos Mansell exigindo dinheiro. Hutch aponta para uma tigela no centro da mesa da cozinha, cheia de dinheiro amassado — local onde se esconde o objeto que desencadeará uma reviravolta na trama — e oferece também seu relógio, de valor sentimental inestimável. A iluminação tênue lança sombras sobre os espectadores, sugerindo que algo mais está prestes a acontecer. Quando Brady confronta o homem, Hutch pega um taco de golfe para atingir a mulher, mas hesita ao sentir uma voz interna, e os ladrões partem sem nada. 

O desconforto assombra os Mansell por dias, até que Hutch é impelido a agir ao notar que uma pulseira de Sammy pode estar entre as notas amassadas. Essa descoberta serve como estopim para o diretor conduzir esse homem, um pai amoroso e marido dedicado, mesmo sendo negligenciado, por um turbilhão de dilemas morais, todos solucionados com sua habilidade excepcional em combate, adquirida em seus dias de agente do FBI. Em uma dessas confrontações, ele deixa o filho de um mafioso russo à beira da morte — uma passagem longa e desgastante na narrativa —, mas que Odenkirk executa com maestria, até retornar à sua vida anterior. 


Filme: Anônimo  
Direção: Ilya Naishuller 
Ano: 2021 
Gêneros: Ação/Thriller 
Nota: 9/10