Pare agora o que está fazendo e assista ao remake de uma das maiores obras-primas do cinema de ação, na Netflix Reda Laaroussi / Netflix

Pare agora o que está fazendo e assista ao remake de uma das maiores obras-primas do cinema de ação, na Netflix

Com uma fotografia alaranjada entre montanhas arenosas e aeradas, explosões magníficas e fumaças espessas de terra ajudam a construir o clima de tensão e angústia dos protagonistas de “O Salário do Medo”, thriller de ação de Julien Leclercq. Terceiro remake, depois das versões de 1953  e 1977,  a produção francesa tem sido rechaçada pela crítica, mas convenhamos, é muito difícil superar obras-primas de mais de 70 anos nas quais as pessoas constroem lendas em torno. Alguns esforços nem deveriam ser feitos. Leclercq assume um risco homérico aqui e o admiro por sua bravura.

A versão original é simplesmente idolatrada e considerada uma obra de arte que deveria estar exposta no Louvre. Henri-Georges Clouzot se inspirou no romance de Georges Arnaud, que narra as desventuras de um grupo de homens desesperados que são contratados para transportar 200 quilos de nitroglicerina em caminhões por meio de estradas precárias e perigosas. A luta para finalizar a missão se torna uma verdadeira batalha pela sobrevivência, especialmente quando situações adversas complicam ainda mais a missão.

O filme de Clouzot se passa na América do Sul e os desafios incluem pontes instáveis e condições climáticas desfavoráveis. Na versão de 2024, Julien Leclercq ambienta sua história em algum lugar genérico e indefinido o Oriente Médio. As dificuldades aqui são relacionadas ao fato de estarem enfrentando 800 quilômetros de zona de guerra, em meio a ataques de rebeldes armados e campos minados.

Os heróis são Fred (Franck Gastambide) e Alex (Alban Lenoir), uma dupla de irmãos que se metem nesta situação de uma forma um pouco vaga. O filme tenta explicar, por meio de flashback, um pouco do passado. Há nove meses, Fred convenceu o irmão Alex a tentar roubar um cofre cheio de dinheiro. Alex foi preso, enquanto Fred conseguiu escapar. Com Fred se sentindo culpado, ele precisa solucionar o problema. Então, ele recebe a proposta de ajudar no transporte da nitroglicerina. Além do dinheiro, que receberá pelo trabalho, seu irmão também será solto para que possa ajudá-lo, já que Alex é especialista em explosivos.

Com alguns elementos da trama original e outras adaptações para modernizar o roteiro, o filme de Julien Leclercq também atualiza a estética do filme, operando efeitos grandiosos de CGI que ampliam a intensidade da ação no filme. A extravagância e as mudanças na história irritaram os fãs originais da trama. É compreensível. Provavelmente é doloroso ver algo que se ama tão deturpado e transformado em um Frankenstein comercial. Certamente o produto de Leclercq é pensado para vender.

No entanto, do ponto de vista de quem não assistiu ao original ou não gosta de clássicos, “O Salário do Medo” de 2024, na Netflix, é recreativo, distrativo e imponente o bastante para  manter o público absorto durante suas quase duas horas de duração. Sem julgamentos duros demais, dá para assistir e se divertir.


Filme: O Salário do Medo
Direção: Julien Leclercq
Ano: 2024
Gênero: Suspense/Ação
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.