Último dia para assistir a um dos filmes mais belos do catálogo da Netflix Divulgação / Alamode Film

Último dia para assistir a um dos filmes mais belos do catálogo da Netflix

No ano de 1947, o planeta ainda se recompunha do turbilhão provocado pela Segunda Guerra Mundial, um período de intensa devastação global entre 1939 e 1945. A vida gradualmente retoma sua rotina: conflitos geracionais se intensificam, jovens se apaixonam, idosos alimentam aves em parques, criminosos enganam transeuntes, trabalhadoras do sexo buscam clientes nas ruas, e traições conjugais se desenrolam.

Observando esse panorama com a tranquilidade que somente a experiência confere, um célebre personagem da ficção detetivesca encara o lento declínio rumo ao seu final, isolado em um refúgio campestre junto ao litoral do sul inglês. Arthur Conan Doyle, o criador escocês nascido em 1859 e falecido em 1930, talvez se decepcionasse com tal cenário, mas entenderia a situação. A consciência da própria limitação é palpável, assim como a admiração pelas abelhas que mantém, exemplares de uma comunidade eficiente, pacífica, e onde a cautela é vital, especialmente diante de ameaças humanas, onde cada ataque pode significar um sacrifício final.

No filme “Sr. Sherlock Holmes” de 2015, dirigido por Bill Condon, há um esforço para mesclar suspense e uma abordagem sensual sutil, traços marcantes em seus trabalhos anteriores como em “O Quinto Poder” de 2013 e na adaptação cinematográfica de “Crepúsculo” em 2011. Condon demonstra não temer empreitadas ambiciosas, especialmente ao trazer à vida um ícone da cultura popular em uma fase tão singular. A escolha acertada do elenco e dos locais de filmagem facilita imensamente a transposição da narrativa para as telas.

Ian McKellen é a escolha perfeita para o papel do investigador, reafirmando a parceria bem-sucedida com Condon estabelecida em “Deuses e Monstros” de 1998. No filme de 2015, McKellen, aos 76 anos, adota maquiagem e próteses para encarnar um Holmes envelhecido, mergulhando em flashbacks que exploram suas últimas investigações e o mistério de um casamento em crise. A história poderia ter se aprofundado mais nesta linha, ao invés de se dispersar em elementos como a busca por um remédio milagroso no Japão, o que acaba por diluir o impacto da trama principal.

A introdução do jovem Roger, interpretado por Milo Parker, e a relação deste com Holmes, traz um novo dinamismo à história, refletindo sobre a transitoriedade da vida. A apicultura, hobby do detetive, serve como metáfora para suas reflexões sobre a existência, embora esta analogia, assim como a trama, perca sua força ao longo do filme.

“Mr. Sherlock Holmes” é um filme visualmente atraente, mas peca por um ritmo demasiadamente lento, condizente com uma narrativa focada nas reminiscências de um homem no fim de sua vida. McKellen, com suas expressões nuanciadas, consegue conferir algum significado ao filme de Condon, que oscila entre a arte e o enigma, com Holmes transformando-se em uma figura misteriosa, cujo intérprete busca decifrar, mesmo que parte dessa essência se perca irremediavelmente.


Filmes: Sr. Sherlock Holmes
Direção: Bill Condon
Ano: 2015
Gêneros: Mistério/Drama
Nota: 8/10