Desligue seu cérebro e se desconecte da realidade com o filme mais maluco e alucinante da Netflix Divulgação / Tsc Tsc Cinema

Desligue seu cérebro e se desconecte da realidade com o filme mais maluco e alucinante da Netflix

Dentre os tantos mistérios que o Oriente guarda, decerto NÃO está nenhuma escola de artes marciais cuja fonte de toda a sabedoria física e do espírito resida no consumo de entorpecentes. Assim mesmo, André Sigwalt e Augusto Soares passam por cima da tradição e falam de um certo guru asiático doidão, que instituiu nada menos que a maconha como uma prática não só permitida como estimulada àqueles que desejam alcançar a mais alta esfera de iluminação terrena, uma espécie de, com a licença do trocadilho, prova de fogo para postulantes a guerreiros que abrem mão da pólvora.

“O Mestre da Fumaça”, na Netflix, conta com uma larga medida de boa vontade do espectador para ser compreendido; o problema é que, ao longo de 105 minutos, os diretores não chegam sequer a insinuar sobre o que estão falando, como se, no fundo, pairasse uma névoa de censura que os desaconselhasse a sustentar um determinado ponto de vista.

Para disfarçar o constrangimento, apostam num besteirol que começa frio e termina gelado, mesmo que as bem coreografadas cenas de luta, que o roteiro de Sigwalt e Soares espalha sem método aqui e ali, saltem aos olhos dos iniciados.

À medida que vivemos, descobrimos, uns com mais dificuldade que outros, que temos todos a capacidade de abandonar o caminho pelo qual íamos gostosamente nos perdendo e refazer o percurso, do começo, se necessário.

Muitas vezes precisamos largar tudo, abandonar a vida que levávamos, acessar o mais obscuro de nosso espírito, no intuito de apreender o cenário em que estamos nos aprisionando e, assim, verdadeiramente, mudar. A estrada para a perdição é larga, porém sombria; uma vez que o homem envereda por essa senda tenebrosa da existência, surgem mil outros desvios que, por mais retos que possam se mostrar, conduzem-no à desventura e quiçá à morte.

O filme rompe com uma externa gravada num lugar que remonta à China eminentemente rural de 1949. À beira de um rio, um homem e uma mulher conversam a respeito de uma tal praga que se abate sobre três gerações de lutadores, que terão de morrer aos 27 anos caso não consigam dominar a polêmica técnica que emprega a cannabis sativa, uma velha conhecida da humanidade há pelo menos dez milênios, em combates sangrentos com espaço para apenas um vencedor.

A narrativa salta mais de meio século e chega a 2002; o brasileiro Gabriel, neto do homem que palrava com a mulher sem coração que acabou por tirar-lhe a vida, sabe (ou, pelo menos, tem uma intuição poderosa) que precisa encontrar o sensei que encarna o feitiço capaz de ajudá-lo a bater o adversário que há de o perseguir e encurralar, impelindo-o ao enfrentamento mortal, uma vez que está às vésperas do 27º aniversário.

Para tentar fugir a seu destino, ele se desloca de São Paulo para uma cidadezinha do interior, ouvira dizer, mora o único homem capaz de ensiná-lo a anestesiar seus oponentes.

Quando se depara com o velho e se dá conta do que vem a ser seu treinamento, Gabriel, claro, não disfarça o baque, mas não tem escolha. Daniel Rocha exterioriza essa sensação de estar cada vez mais perdido, um pobre rapaz da cidade grande, empobrecido e solitário, que passa a ter de depositar todas as esperanças num descendente de samurai que faz de baseados imensos a espada com que dizima o inimigo.

Rocha, contudo, não mantém esse ar de fera ferida essencial do mocinho, e no terceiro ato, só mesmo quem assistiu às fitas originais de Bruce Lee (1940-1973) não terá desistido da história. Ou se rendido à larica.


Filme: O Mestre da Fumaça
Direção: André Sigwalt e Augusto Soares
Ano: 2022
Gêneros: Ação/Comédia
Nota: 6/10