Filme da Netflix revela atritos e perrengues do maior evento musical do século 20 Divulgação / Netflix

Filme da Netflix revela atritos e perrengues do maior evento musical do século 20

Há um certo prazer em saber como os fatos aconteceram por trás da história oficial. Em “A Noite que Mudou o Pop”, na Netflix, o cineasta vietnamita-americano Bao Nguyen explora uma das canções mais famosas da história da música pop, lançada por meio de um trabalho filantrópico, que reuniu os maiores artistas de uma geração em um mesmo estúdio em uma fatídica noite.

Você até poderia imaginar uma parceria musical incrível entre Michael Jackson e Paul McCartney, como aconteceu, mas jamais imaginaria que Bruce Springsteen poderia compartilhar uma canção com Bette Midler. Ou que Bob Dylan faria um dueto com qualquer pessoa que não fosse Johnny Cash e Joan Baez, quanto mais um grupo de mais de 40 artistas da moda.

Bao consegue filmagens inéditas e as alterna com entrevistas com alguns dos músicos que estiveram presentes no dia. Quem conduz a narrativa é Lionel Richie, um dos idealizadores do projeto, que sabe o passo a passo que o “USA for Africa” teve que percorrer para dar certo. Tudo começou quando Harry Belafonte, que acompanhou o trabalho do grupo “Band Aid”, de Bob Geldof, se inspirou e fez a sugestão para Michael Jackson e Lionel.

Geldof é um ativista implacável em defesa de populações carentes do mundo, em especial da África, para que tenham recursos mínimos de sobrevivência, como direito a água potável, alimentos, medicamentos. Ele também se uniu ao projeto liderado por Michael Jackson e Lionel Richie, que encaminharia recursos para a Etiópia, onde a fome já fazia mais de um milhão de vítimas por ano.

Após definido que a gravação seria na noite da premiação musical AMA’s, assim que o evento terminasse, Michael e Lionel começaram a compor a canção, que ficou pronta em um mesmo dia. Enquanto isso, convite eram feitos aos maiores artistas daqueles tempos. O trabalho era ambicioso e Bruce Springsteen foi um dos primeiros convidados, porque sabiam que se conseguissem atraí-lo para o projeto, outros grandes nomes viriam. E veio.

Uma sucessão de lendas do pop, rock e country foram aceitando os convites e ouvindo os demos gravados por Michael Lionel para aprenderem a canção. Era inacreditável que pessoas como Ray Charles, Tina Turner, Diana Ross, Bob Dylan, Paul Simon, dentre outros nomes foram aceitando fazer parte. No entanto, a expectativa maior era: será que essas pessoas vão comparecer?

Na premiação do AMA’s, Lionel Richie ganhou 5 prêmios e foi o grande vencedor da noite. No entanto, sua cabeça só conseguia pensar no que viria a seguir. Sua maior preocupação é se a gravação daria certo. Então, naquela madrugada de 28 para 29 de janeiro de 1985, no estúdio A&M, na avenida La Brea, em Los Angeles, carros e mais carros de celebridades estacionavam.

Na porta, Lionel deixou um papel com um pequeno aviso: “Deixe seu ego na porta”. E, enquanto famosos preenchiam o estúdio, ficava claro que os egos ainda estavam ali, dentro deles, mas ao longo daquela extensa madrugada, eles se mostrariam mais vulneráveis e inseguros, diante uns dos outros, do que pensávamos ser possível.

O produtor Quincy Jones assume a liderança e organiza o grupo barulhento, que parece mais com uma turma de quinto ano da escola. Conforme a fome, o cansaço e as dificuldades surgem, alguns vão embora. Mas são justamente as grandes celebridades, como Springsteen e Dylan que mostram do que um verdadeiro artista é feito: o reconhecimento das próprias limitações e a paciência e humildade para lidar com elas em público, se vulnerabilizando.


Filme: A Noite que Mudou o Pop
Direção: Bao Nguyen
Ano: 2024
Gênero: Documentário
Nota: 10