Melhor filme da franquia de ação mais famosa do cinema está na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Melhor filme da franquia de ação mais famosa do cinema está na Netflix

James Wan conseguiu fazer de “Velozes e Furiosos 7” algo muito maior do que o filme é. O diretor abusa dos maneirismos nos enquadramentos e na edição, como já fizera em “Sobrenatural” (2010), “Invocação do Mal” (2013) e “Jogos Mortais” (2004), mas à diferença dessas três produções, que inauguraram franquias longevas e rendosas, aqui o resultado é verdadeiramente orgânico, fluido, não se percebe a menor necessidade de convencer o público quanto ao que quer que seja e nunca falta aquilo que todo mundo busca numa história desse jaez, ação, que se desdobra em violência, e que termina por abastecer de sentimento os corações mais rigorosos. Novamente, a parceria de Chris Morgan e Gary Scott Thompson no roteiro vai acendendo algumas luzes sobre o que mais uma trama contando a vida meio delinquente de um grupo de aficionados por motores ainda pode ter de original, pergunta que o diretor responde a seu modo atrevido.

Os telhados de Londres parecem mais lindos sob a fotografia de Marc Spicer e Stephen F. Windon, um dos aspectos realmente incontornáveis de “Velozes e Furiosos 7”. O apuro estético colabora muito para que se deixe de lado a previsibilidade da história, que toma ares de uma saga um tanto autorreferente, que exige que se volte uns bons anos no tempo a fim de não se perder nada. Agora, Deckard Shaw, o vilão de Jason Statham, está obstinado em hackear o computador de computador de Luke Hobbs e, assim, encontrar Dominic Toretto e seu grupo, remontando a um episódio do longa anterior, uma maldisfarçada chantagem de Hobbs para que Toretto e seus amigos se dispusessem a minar o poder da sociedade de mercenários comandada por Owen, o irmão de Shaw vivido por Luke Evans. Na pele de Hobbs, o investigador do FBI incumbido de acompanhar as novas empreitadas comerciais de Dom, Dwayne Johnson perpassa a narrativa quase toda, derretendo o gelo de marmanjos seduzidos por a carrões envenenados. Nesse campo, também se encontra Leticia Ortiz, a eterna namorada do anti-herói, padecendo de uma amnésia que Justin Lin explica em “Velozes e Furiosos 6” (2013), e dada como morta. Da mesma forma que Johnson, Michelle Rodríguez recorre ao carisma para vencer certo marasmo residual ao fim das inúmeras e bem-coreografadas sequências de luta. Resta claro que Letty é infernizada por esse dilema moral, porém fica igualmente óbvio que não tem qualquer ilusão de voltar oficialmente ao mundo dos vivos ao sentir que Dom, de quem não guarda a mais vaga lembrança, é, no fundo, um bom sujeito e pode cair direto na boca do lobo se porventura Shaw suspeitar que ela continua neste plano.

No meio do segundo ato, a figura ambivalente do senhor Ninguém de Kurt Russell entra como o homem poderoso que tem informações acerca de tudo e de todos graças a um certo Olho de Deus, um sistema de vigilância capaz de rastrear smartphones por câmeras, e é dessa forma que Ninguém chega a Dom, para que ele tome a frente de uma operação que visa a subjugar Deckard, inimigo dos dois. O personagem de Diesel, claro, aceita, mas preferia chegar ao adversário do jeito mais primitivo, o que não tira o encanto de uma perseguição de aliados de Dom por uma rede de dispositivos composta por lançadores de mísseis teleguiados, sem que ninguém jamais vire pó. “Velozes e Furiosos 7” acaba numa nota solar, entretanto flagrantemente melancólica, com a homenagem a Paul Walker (1973-2013), morto num acidente de trânsito dois anos antes, uma ironia triste e plena de um macabro simbolismo.


Filme: Velozes e Furiosos 7
Direção: James Wan
Ano: 2015
Gêneros: Ação/Crime
Nota: 7/10