Tesouro do cinema argentino inspirado por best-seller premiado acaba de chegar na Netflix Divulgação / Netflix

Tesouro do cinema argentino inspirado por best-seller premiado acaba de chegar na Netflix

Baseado no best-seller argentino de Claudia Piñero, “Elena Sabe” é um conto enigmático criminal sobre uma mãe e uma filha, dirigido por Anahí Berneri e adaptado para as telas por Gabriela Larralde. Comovente e ao mesmo tempo perturbador, o longa-metragem intercala cenas do presente e do passado para nos mostrar a relação entre Elena (Mercedes Morán) e Rita (Erica Rivas).

Elena é uma idosa que sofre de Parkinson e está cada vez mais debilitada. Sabemos desde o princípio que sua filha, Rita, morreu. Pelas palavras do padre em seu velório, ela tirou a própria vida. Enquanto adolescentes zombam do corpo vazio de Rita no caixão, Elena se recorda de quando a própria filha era uma adolescente.

Narcisista, Elena sempre foi uma mãe rigorosa, cuja base de sua educação foi a frieza e a humilhação de sua filha. Fazer Rita se sentir inferior sempre foi um método bem-sucedido de mantê-la não apenas na linha, mas sempre por perto. Afinal, se Rita aprendesse que pudesse ser amada por outra pessoa, poderia ir embora.

Não que Elena não ame a filha. Existe amor. Tanto é que sua busca implacável para buscar a verdade e encontrar os verdadeiros culpados pela morte de Rita a torna incansável e irritante. Elena espalha cartazes pela cidade, espera policiais na delegacia durante horas e embarca em uma jornada odisseica por Isabel, uma conhecida de Rita que pode ter algumas respostas. Elena precisa saber que a filha terá justiça e que sua morte será justificada.

Conforme as lembranças se arrastam, as verdades são desnudas. E a memória é a chave-mestra para desvendar o caso que a polícia já deu por resolvido. Perturbador e comovente, não sentimos simpatia por Elena, embora sintamos pena em vários momentos. O enredo retrata não apenas uma relação problemática e extremamente tóxica entre mãe e filha, mas também a degradação que o Parkinson provoca no corpo e a necessidade por um cuidado permanente e constante. Elena tem uma curvatura no pescoço que a impede inclusive de engolir. O médico diz à Rita, que trabalha oito horas por dia, que a mãe não pode mais ficar sozinha em casa e que ela precisa contratar enfermeiras para tomar conta da mulher.

Rita, que estava noiva de um homem aparentemente bom e decente, termina o noivado para poder cuidar da mãe doente e sempre dependente, mesmo quando ainda era saudável. Afinal, Elena, como narcisista, sempre demandou uma atenção em tempo integral. Mas outros elementos do passado também acrescentam informações fundamentais para o mistério, como Rita ser extremamente religiosa e ter feito um aborto no passado.

Quem a filha era fora de seu olhar ferrenho também guarda algumas respostas. Toda a opressão e ausência de individualidade na relação entre mãe e filha certamente foram cruciais para o desfecho de Rita. Agora, presa em um corpo que não consegue sequer olhar para frente ou colocar um pé à frente do outro, o Parkinson soa muito mais como uma metáfora de que Elena está presa em um período de sua vida e não consegue seguir adiante.


Filme: Elena Sabe
Direção: Anahí Berneri
Ano: 2023
Gênero: Drama/Suspense/Crime
Nota: 9/10