Romance na Netflix é olhar afiado sobre relacionamentos reais e vale por uma sessão de terapia Divulgação / Potential Studios

Romance na Netflix é olhar afiado sobre relacionamentos reais e vale por uma sessão de terapia

Talvez a ciência, em alguma época, chegue à fórmula que há de fazer todo namoro, noivado, matrimônio ultrapassar incólume a barreira da eternidade. Enquanto esse dia glorioso não vem, homens e mulheres continuarão a bater cabeça, juntos ou separados, tentando achar o xis da equação mágica que resolveria suas diferenças, naturais como qualquer outro elemento da vida, buscando medicamentos, simpatias, livros de autoajuda e tudo mais quanto possa existir que se constitua numa promessa de felicidade, duradoura ou efêmera, com o propósito de mascarar os erros de que não abrem mão. Indianos são conhecidos por lidarem com o sentimento amoroso sem muitas fantasias — incluindo o sexo como parte indissociável da questão, como prova o “Kama Sutra”, a bíblia do erotismo, escrita pelo filósofo Vātsyāyana cinco séculos antes da era cristã —, e em “De Volta ao Amor”, Yuvaraj Dhayalan ao mesmo tempo em que exalta a habilidade de sua gente quanto a digerir e metabolizar as dores do amor, não cerra os olhos à evidência de que pode restar uma nódoa de pesar difícil de remover. Os três casais que dividem a cena e o consultório de uma terapeuta em Nova Délhi, também ela em apuros no casamento, estão certos de que estão errando, até imaginam onde, mas, assim mesmo, não viram o jogo. O texto de Dhayalan, ágil sem prejuízo da análise, não revela nada que eles (e o espectador) já não saibam, e é essa dicotomia, esse vaivém das emoções que segura a audiência por mais de duas horas e meia.

Sob copas de árvores distorcidas em contra-plongeé, uma mulher lembra que faculdade alguma ensina de que maneira pode-se manter um relacionamento para sempre. A terapia é uma das alternativas mais racionais para quem deseja equalizar os tantos matizes de uma vida a dois, ora pastéis demais, oraintensos à exaustão, antes ou logo após as núpcias, e a palestrante conhece do assunto, por fora e por dentro. Dois casais se sucedem no sofá do consultório da doutora Mithra Manohar, que ouve sem esboçar reação queixas relacionadas ao uso excessivo de celular ou à falta de sintonia em miudezas cotidianas como escolher o restaurante em que vão jantar, até que se põe a lembrar do próprio casamento. Shraddha Srinathcompõe o elo entre Rangesh, o desenvolvedor de softwares interpretado por Vidharth que começa a rejeitar a esposa, Pavithra, de Abarnathi, por ela ter engordado durante a gravidez do filho do casal, e Arjun e Divya, um casal de vinte e poucos anos que passa a viver sob o constante medo de ter de descobrir um no outro defeitos inconciliáveis com sua própria natureza, com o que sonharam para o futuro. Sri e Saniya Iyappan preparam a narrativa para as cenas em que Mithra reconhece que também seu casamento com Manohar, o personagem de Vikram Prabhu, vai mal das pernas, momento em que o trabalho de Dhayalan aproxima-se da crônica de costumes já elaborada por Anurag Kashyap, Dibakar Banerjee, Karan Johar e Zoya Akhtar em “Quatro Histórias de Desejo” (2018). Com menos pimenta.


Filme: De Volta ao Amor
Direção: Yuvaraj Dhayalan
Ano: 2023
Gêneros: Drama
Nota: 8/10